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Procuradoria-Geral da República (PGR) 25 de maio de 2017 | 07:38

Atentados à liberdade de imprensa, por Raul Monteiro

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Enquanto Michel Temer (PMDB) não cai, possibilidade que parece cada vez mais forte à medida que os dias se arrastam e a Rede Globo mantém a carga sobre o presidente, quem se excede em todos os sentidos é a República de Procuradores, que está jogando papel fundamental no enterro político do mandatário. Não bastasse a absolvição sumária que deram aos irmãos caipira Joesley e Wesley Batista, liberados para curtir a vida no exterior, onde a família comprou recentemente um apartamento por US$ 125 milhões, em troca do grampo presidencial e de delações em que revelam sua própria rede de corrupção, atentaram literalmente contra a liberdade de imprensa.

Desta vez, o alvo foi o jornalista Reinaldo Azevedo, que teve uma conversa com a irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Andréia, grampeada e divulgada pela Procuradoria Geral da República. No grampo, Azevedo critica a Veja, revista em que trabalhava e da qual não lhe restou alternativa senão pedir demissão depois do vazamento. O colunista não é alvo da Operação Lava Jato e sua conversa com Andréia não tem o menor interesse público, conforme atestaram os órgãos de classe de jornalistas que, assustados, protestaram contra a divulgação do áudio, mas o estrago já foi feito, com uma lamentável violação à liberdade de imprensa.

Até no Supremo Tribunal Federal (STF), cujos membros jogam muitas vezes de forma combinada com a PGR, registrou-se justa indignação contra o arbítrio dos procuradores, destaque-se, em especial, os protestos da presidente da Corte, a ministra Carmem Lúcia, e do seu colega ministro Gilmar Mendes, que chegou a mencionar sua “vergonha” com o episódio. Meses atrás, o juiz Sérgio Moro, cujo trabalho na Lava Jato pode ser considerado inestimável, também conduziu coercitivamente para depor um blogueiro a quem acusara de passar informações ao ex-presidente Lula, apesar da defesa do profissional de que se limitara a exercer seu trabalho.

Fatos como esse só mostram que toda a vigilância sobre esta turma, por mais que faça um trabalho importantíssimo contra a prática impune histórica da corrupção no país, é pouca. Foi graças à imprensa que a sociedade ficou sabendo que, em troca dos grampos e das delações dos irmãos Batista, eles praticamente garantiram sua absolvição de crimes graves, o que tem provocado a suspeita de que se praticou um claro e injustificável favorecimento à dupla, já que nenhum dos executivos ou empresários investigados pela Lava Jato até agora lograram ter o mesmo tipo de tratamento VIP como o dedicado aos donos da JBS.

A reação popular às regalias obtidas pelos empresários tem sido tão forte que levou o procurador geral da República Rodrigo Janot a defender as medidas adotadas contra os dois num artigo publicado na última quarta-feira, no qual queixou-se da importância dada pela imprensa ao fato. Para Janot, esqueceu-se de todo o trabalho desenvolvimento pela Força-Tarefa, principalmente da imensa contribuição da delação dos empresários às investigações. Como se a colaboração com a Justiça não fosse uma obrigação de pessoas que enriqueceram e às suas empresas às custas de recursos públicos e, segundo eles próprios, com a ajuda de muita propina distribuída a agentes públicos.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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