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Ex-ministro e ex-governador da Bahia, Jaques Wagner 11 de maio de 2017 | 08:01

A denúncia inesperada de Wagner, por Raul Monteiro

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Considerado um ás da política e dono de uma grande habilidade com as palavras, o ex-governador Jaques Wagner (PT), atual secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, pode ter criado um tsunami numa entrevista recente em que disse ter interrompido o ato de um corrupto que pretendia levar propina pela Via Expressa, obra mais importante de seu primeiro governo na capital baiana. Wagner respondia, em entrevista a um programa de rádio, a acusações de que havia recebido U$ 12 milhões da Odebrecht em vantagens indevidas, segundo delatores da Lava Jato, quando avançou na informação.

“Pergunta à Odebrecht e a Cláudio Melo [ex-diretor de relações institucionais da empreiteira] por que ele não pegou a obra da Via Expressa. Ele não pegou porque alguém do meu governo, que não me interessa falar, parece que já tinha vendido a ele a obra na contrapartida de alguma grana. E eu digo: se você pagou adiantado, pagou mal pago, porque aqui vai ter licitação”, relatou Wagner durante o programa Se Liga Bocão, na Itapoan FM, na última segunda-feira. Segundo ele, a licitação acabou ocorrendo e o valor da obra, executada pela OAS, caiu em 18%.

O que poderia ser uma demonstração da seriedade do ex-governador, entretanto, acabou provocando uma surpresa geral, mesmo porque, ao relatar o restante da história, sem querer revelar o nome do corrupto, Wagner admitiu que o deixou no governo, ao declarar que “a pessoa não aprontou mais porque eu não deixava”. Para completar, ainda acrescentou que tomou conhecimento do plano da negociata por meio de um contato do então diretor de relações institucionais da Odebrecht, o qual lhe disse que havia interpretado que a obra seria executada pela empreiteira.

Quando se ouve o áudio, se percebe que a afirmação do governador deixou a equipe de jornalistas que participava do programa simplesmente atônita. “Alguém tentou dar uma acertada”, continuou Wagner. “Um corrupto”, comentou um dos jornalistas. “Eu imagino que sim. Ia receber uma bola”, completou ele. Wagner adiantou, entretanto, que o propineiro não faz parte do governo atual, de seu sucessor Rui Costa (PT), que o nomeou secretário. Mas o desfecho da entrevista não foi nada favorável ao petista. A oposição na Assembleia quer mais detalhes sobre o caso.

E promete se reunir na semana que vem para definir que medida tomar, sem descartar um pedido ao Ministério Público Estadual para que investigue se o ex-governador prevaricou. Resta saber se os deputados estão dispostos a efetivamente chegar à verdade. Afinal, parte do time que hoje faz oposição ao petista estava em seu primeiro governo e não se descarta, inclusive, que um dos partidos que a integram possa ter sido o alvo da denúncia de Wagner. Aliás, nos meios políticos não se descarta que, apesar do risco, o ex-governador tenha tido mesmo o objetivo de atingi-lo.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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