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Disputa motivou o envolvimento direto tanto do governador Rui Costa (PT) quanto de prepostos de ACM Neto (DEM) 26 de janeiro de 2017 | 09:42

O engodo do impacto eleitoral da UPB, por Raul Monteiro

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Do ponto de vista eleitoral, a UPB (União dos Municípios da Bahia) não significa absolutamente nada para quem disputa o governo do Estado, o que confirma que seu poder é muito mais simbólico do que real. Foi, portanto, muito mais a preocupação com o impacto midiático do resultado da eleição à presidência da entidade, num contexto em que dois grupos políticos disputam espaço e poder, como ocorre neste momento na Bahia, o que motivou o envolvimento direto tanto do governador Rui Costa (PT) quanto de prepostos de ACM Neto (DEM) na eleição realizada ontem, em que o candidato apoiado pelo governo, Eures Ribeiro, do PSD, saiu-se vencedor com 206 votos.

Ribeiro teve a seu lado desde o princípio o presidente do seu partido, o senador Otto Alencar, a senadora Lídice da Mata (PSB), o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Marcelo Nilo (PSL), o time todo do PP de João Leão e, no topo da pirâmide, o governador Rui Costa (PT) e seu antecessor, Jaques Wagner, talvez, de todos, o de relacionamento mais próximo com o prefeito de Bom Jesus da Lapa. Dos 206 votos que cravou na urna, pelo menos cerca de 85 devem ter saído diretamente de seu próprio partido, o que torna a sua vitória um sucesso que pode ser creditado em parte significativa a Otto Alencar.

Do lado adversário, Luciano Pinheiro (PDT), prefeito de Euclides da Cunha, embora não tenha feito tão feio para quem se lançou na disputa com bastante atraso, não contou com a mesma turma unida desde o governo do Estado, ombreando-se, ao contrário, com aliados e articuladores políticos do prefeito de Salvador, o que lhe assegurou 139 votos, 19 a mais que o total de 120 prefeitos eleitos por partidos de oposição. Pode-se dizer que teve o mérito, além de ter mantido a oposição unida, de ampliá-la, porém foi inevitável que tenha deixado o auditório da UPB em que a eleição se realizou sob o signo da derrota, sua e de seu grupo.

Mas como a repercussão em relação a 2018 do resultado eleitoral de ontem é zero, não se apresentava ontem na sede da UPB outro motivo para as forças antagônicas do governo e da oposição terem disputado o comando da entidade com tanto ardor senão pelo prazer de concorrer entre si e marcar posição, mais do que efetivamente obter qualquer resultado futuro. A bem da verdade, os prefeitos de oposição que se encontravam ontem na sede da entidade e vibraram durante a apuração dos votos revelavam que, se há algum parâmetro que pode ser extraído do resultado de ontem, ele se encontra nos 139 votos que emergiram no pleito para o seu candidato.

Demonstraria um número firme que marcharia na largada com eventualmente a candidatura oposicionista ao governo em 2018, a qual deve ser encabeçada por ACM Neto. A tese pode ser contraposta com a idéia de que Rui Costa saiu-se bem melhor, podendo iniciar a marcha da reeleição com o apoio de 206 dos 385 prefeitos que compareceram ontem às urnas. Se o baralho se desenrolasse simplesmente assim, alguém poderia decretar a anulação antecipada da sucessão estadual do ano que vem, dizendo que seu resultado estaria expresso no quadro que os prefeitos ofereceram ontem na sede da entidade num espetáculo de democracia.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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