Foto: Reprodução/Facebook
Vereadora Marta Rodrigues 05 de janeiro de 2017 | 07:46

A marca da vereadora Marta, por Raul Monteiro

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Quando lançou-se candidata à presidência da Câmara Municipal de Salvador contra o grupo do prefeito ACM Neto (DEM), liderado na Casa pelo franco favorito Leonardo Prates (DEM), que acabou se elegendo quase à unanimidade, a vereadora Marta Rodrigues (PT) tinha um plano, que fora milimetricamente estudado pela corrente a que pertence em seu partido. Mesmo sabendo que apostava no isolamento do PT na Casa, estava fadada ao fracasso e à condição humilhante de receber apenas o seu voto, como aconteceu, a vereadora expôs, com o seu gesto, tanto interna quanto externamente, a situação vexatória em que o PT se encontra na Câmara.

Na verdade, desde que passou a comandar o país e a partir do momento em que conquistou também o governo da Bahia, o partido foi se reduzindo, com raríssimas exceções, a uma expressão de interesses particulares no Legislativo de Salvador, assumindo condição muito diferente daquela aguerrida agremiação de oposição em que, muito antes de assumir o poder, pontuaram figuras como Zezéu Ribeiro, Edval Passos, Nelson Pelegrino, Walter Pinheiro, Vânia Galvão e o próprio governador Rui Costa. Embora haja controvérsias na própria agremiação, parte da derrocada municipal do partido pode ser atribuída ao prefeito ACM Neto (DEM).

Nestes quatro anos de gestão, por exemplo, Neto conseguiu praticamente anular a atuação da sigla na Câmara, senão abertamente cooptar alguns de seus membros, que tanto deixaram a legenda para aliar-se a ele quanto permaneceram nela, mesmo apoiando ostensivamente o governo democrata sem que nenhum questionamento fosse feito às demonstrações de infidelidade. Mas o prefeito deu apenas uma contribuição para a diminuição do papel e da dimensão na Casa do PT, que já discute, inclusive, a expulsão de dois dos seus três vereadores, exatamente por causa do seu posicionamento na eleição para a presidência da Câmara, na última segunda-feira.

Não há quem não considere hoje ter sido um dos maiores equívocos do partido a decisão de não lançar, por exemplo, candidato à Prefeitura de Salvador, o que acabou reduzindo a bancada de seis vereadores que elegeu em 2012 para a metade na sucessão municipal de outubro do ano passado. Não há também quem não reconheça que a direção municipal do partido praticamente deixou de existir a partir do momento em que, para contentar suas várias correntes internas, optou por fazer um rodízio no seu comando entre alguns dos seus representantes sem que nenhum deles tivesse expressão pública e capacidade para efetivamente liderá-lo.

Impossível negar que ao, deliberadamente marchar para a derrota na eleição para a presidência da Câmara, Marta revelou na sua inteireza a condição de indigência e falta de rumo em que o partido se encontra. A humildade com que ela marchou para a tribuna da Câmara em que discursou defendendo sua candidatura, basicamente para a militância solidária à sua decisão presente às galerias, mostrou que a vereadora não compactua com a boçalidade que o exercício do poder imprimiu num partido cuja maioria parece não querer enxergar que o desapego é o primeiro passo para tentar o recomeço.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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