Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo/Arquivo
Lula quer ser lançado candidato já no próximo ano 26 de dezembro de 2016 | 18:45

No mato sem Lula, por Raul Monteiro

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O lançamento da candidatura de Lula à presidência da República mais uma vez é absolutamente compatível com o terreno livre da política, onde se permite todo o tipo de arrivismo, mas está em completa dissonância com os fatos que se desenrolam no país. E embora seus apoiadores digam que o petista aproveita o momento de fragilidade e impopularidade do presidente Michel Temer (PMDB), no fundo o que Lula deseja é um palanque que justifique sua postura de confronto deliberado à Operação Lava Jato e a seus filhotes, construída sob a tese segundo a qual a melhor defesa é o ataque, sobretudo quando se está acuado.

Ora, ora, é possível que uns poucos acreditem que, na hipótese de vir a ser condenado ou preso, Lula o seja exclusivamente porque era uma ameaça às forças que defenestraram o PT da política nacional, todas temerosas dos avanços sociais experimentados pelo país sob a sua gestão. Mas, para a grande maioria, sem dúvida, a possibilidade de punição do ex-mito pode ser entendida como consequência natural da eventualidade de comprovação, pelas Operações policiais em curso, de que, como já afirmou um famoso procurador, o ex-presidente da República foi o mentor e provavelmente o principal beneficiário do maior esquema de corrupção de que se tem notícia na Nação.

Os petistas podem ficar irritados com o processo que volta e meia denunciam de “desconstrução” de Lula, podem, como sua candidatura presidencial oportuniza, mergulhar ainda mais na espiral da negação que lhes tem permitido navegar na política como se nada tivesse acontecido, classificando os deslavados atos de corrupção que se espraiaram pelo Estado brasileiro a partir da Petrobras como uma mentira produzida por um vergonhoso conluio entre os procuradores e um juiz da Lava Jato orientado por interesses inconfessáveis da Harvard School e a mídia golpista contra a mais pura, bela e digna liderança popular que o Brasil já produziu.

Podem ainda atribuir os percalços judiciais vividos pelo presidente e sua família a uma bem bolada operação da CIA que teria como pano de fundo o desejo de ambiciosos e desumanos norte-americanos na usurpação, a qualquer custo, do pré-sal brasileiro ou então à incontida revolta da tradicional classe média brasileira contra a forçada convivência em aeroportos, concessionárias de automóveis e delicatessens com uma nova classe média desajeitada produzida pelo lulismo que – eles parecem não ver – há muito já se esboroou com a devastadora recessão legada por Dilma Rousseff.

Ao brandirem tais justificativas, entretanto, só estarão se repetindo, reproduzindo um discurso político esvaziado de significado pela torrente de informações e denúncias que tem desnudado a forma como lideranças antes tidas como probas, comprometidas com uma revolução de costumes que colocaria o povo no centro dos interesses da política nacional, aproveitaram sua passagem pelo Estado por meio de um governo dito social para fazer tudo o que condenavam, engendrando uma sólida parceria com empresários a fim de enriquecer e garantir o enriquecimento de seus esquemas às custas de recursos públicos.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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