Foto: Divulgação/Arquivo
Cláudio Melo Filho 12 de dezembro de 2016 | 08:02

Doação legal, caixa 2 e propina, por Raul Monteiro

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A pré-delação inaugural da Odebrecht, vazada deliberadamente na última sexta-feira, não poderia ter feito mais estragos do que os registrados neste fim de semana. Por mais que o Brasil tenha perdido, ao longo dos anos, mas especialmente sob o lulo-petismo da última década, a inocência em relação à sua classe política, o retrato de alguns agentes públicos que deveriam zelar pelos interesses do país extraído de trechos das 82 páginas do depoimento ainda não homologado de Cláudio Melo Filho, homem encarregado de fazer o relacionamento entre a Odebrecht e o Congresso, não deixa de surpreender e, na maioria das vezes, enojar.

Do relato, cuja veracidade e precisão alguns dos citados já desmentem, surgem informações sobre 48 políticos que receberam recursos da Odebrecht por meio de doações legais, caixa dois e propina. Lamentavelmente, o noticiário, com a superficialidade e simplificação inerentes à abordagem jornalística meramente descritiva, se encarrega de colocar tudo e todos no mesmo patamar, corroborando a ideia de que não se salva ninguém, muito útil àqueles que, além de por algum motivo ainda não revelado tentarem desconsiderar o funcionamento histórico do sistema atual, sugerem a falência da política, como se houvesse outra alternativa a ela.

Ressalvados os erros, as confusões e as omissões, deliberadas ou não, do delator, o que importa mesmo é o que ele relata sobre o reino da corrupção, a qual nada tem a ver, frise-se, com caixa 2 e muito menos com doação legal de campanha. Neste particular, a imagem que Cláudio Melo Filho vai compondo, individualmente, de alguns conhecidos personagens da República é simplesmente devastadora. A força que se atribuem para barganhar propina com a empresa quando ocupam um pequeno espaço que seja na estrutura do Estado ou no Parlamento é vergonhosa. Seu deslumbramento por presentes luxuosos e caros, aos quais só fazem jus por poder e influência efêmeros, nauseante.

A comprovar-se o que ele diz do comportamento de uma par deles, haveria pouca alternativa à Justiça, senão a de interditar estas figuras lastimáveis definitivamente não apenas para o exercício da atividade pública como para o convívio social. A desgraça suprema é que os relatos do lobista da Odebrecht são enriquecidos com inúmeros detalhes, valorizados pelo que é identificado como uma característica particular sua: uma dificuldade intransponível de separar o profissional do pessoal, que o levou em muitos casos a se tornar íntimo daqueles com que deveria se relacionar de forma estritamente institucional.

É inegável que o ex-executivo da Odebrecht sabe muito e profundamente. Sob essa ótica, são simplesmente aterradoras as revelações que faz sobre a cúpula do PMDB nas mãos de quem o inconsequente, incompetente e igualmente propineiro lulo-petismo entregou o comando do país. A pré-delação de Cláudio Melo Filho levou jornais como a Folha a estimar até agora em R$ 88 milhões os valores repassados pela Odebrecht a políticos – tanto de forma legal quanto por meio de corrupção – entre os anos de 2006 a 2014. Oxalá o país aguente firme e de pé o peso dos cerca de 80 relatos que ainda estão por vir, porque parte da classe política já beijou a lona.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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