Foto: André Dusek/AE
28 de novembro de 2016 | 07:30

A nova dimensão de Geddel, por Raul Monteiro

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Ainda é cedo para avaliar o tamanho a que foi reduzido o peemedebista Geddel Vieira Lima depois de sua rumorosa demissão do papel de articulador político do governo Michel Temer (PMDB). Mas é consenso que, no médio e mesmo no longo prazo, jamais será aquele a que chegou recentemente e que a implicação mais imediata dos termos de sua pesada queda se projetará inquestionavelmente sobre 2018. Como se sabe, Geddel tinha plano praticamente consolidado de ocupar uma das vagas ao Senado na chapa com que o prefeito ACM Neto (DEM) pretende disputar a próxima sucessão estadual.

A topada que levou, no entanto, parece ter derrubado de tal forma suas chances de entrar no concurso que já desperta abertamente a cobiça pelo espaço que estava reservado a ele tanto entre partidos da base do prefeito quanto em legendas oportunistas que hoje estão no campo oposto. Depois de ter passado uma semana apanhando da Rede Globo e nas redes sociais por causa da denúncia de que pressionou indevidamente um colega para livrar das garras do IPHAN um empreendimento no qual tem um apartamento, o peemedebista viu reduzir a pó a importante ajuda que emprestaria à virtual chapa a ser liderada pelo democrata.

Mesmo numa disputa que ocorrerá daqui a dois anos, o auxílio que sua presença poderia representar tem tudo para transformar-se num grande estorvo para o consórcio majoritário oposicionista, motivo porque, à primeira vista, o novo cenário, se cria uma oportunidade, também provoca um problema para as intenções sucessórias do prefeito. Se tinha um quadro na cabeça que contemplava a participação de Geddel, tudo indica que Neto será obrigado agora a repensar a posição dos aliados com que partirá para enfrentar o governador Rui Costa (PT), candidato à reeleição.

As projeções, evidentemente, não levam em conta o que, a partir de agora, pode acontecer com o próprio governo Michel Temer, o qual foi praticamente tragado pela dimensão estendida que o caso Geddel ganhou na mídia, desencadeando entre outras idéias a defesa de seu impeachment por parte dos partidos esquerdistas, nem o tsunami que a iminente delação dos executivos da Odebrecht pode provocar sobre uma classe política cada vez mais oprimida entre a intransigência de setores da Operação Lava Jato e a completa desconexão de algumas de suas lideranças com relação à mudança de paradigma porque passa o país, da qual o caso Geddel é um exemplo.

É precipitado, no entanto, achar que os últimos episódios tiraram o ex-ministro do jogo político. Mesmo porque sua relação com o presidente da República continua próxima e ele poderá, inclusive, desempenhar algum papel nos bastidores de auxílio ao atual governo, apesar de contar com condição inferior à desfrutada, por exemplo, pelo senador Romero Jucá, primeiro ministro de Michel Temer a deixar o cargo por ter sido pego numa gravação sugerindo a necessidade de conter “a sangria” da Lava Jato. Jucá permaneceu junto ao primeiro mandatário por ter um mandato, trunfo do qual Geddel deve estar desesperadamente sentindo falta neste momento.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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