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24 de outubro de 2016 | 07:37

Ousadia e exclusão na disputa na Câmara, por Raul Monteiro

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Há pelo menos duas certezas com relação à sucessão do vereador Paulo Câmara (PSDB) à presidência da Câmara Municipal: a primeira delas é a de que, a dia de hoje, o processo está apontando para longe de uma eleição consensual. O segundo é que o prefeito ACM Neto (DEM), embora de fato até o momento não tenha manifestado preferência por nenhum dos cinco candidatos de sua base, vai interferir na campanha, isto é, vai escolher um candidato a quem apoiar e, consequentemente, tentar eleger para o comando do Legislativo nas eleições de janeiro próximo.

A semana que passou marcou a disputa em duas frentes. Num lance ousado, cinco vereadores da base governista – Leonardo Prates (DEM), Joceval Rodrigues (PPS), Geraldo Jr. (SD), Isnard Araújo (PRB) e Tiago Correia (PSDB) – se reuniram, lançaram um movimento intitulado “Câmara Democrática” e fecharam um pacto pelo qual se comprometem a apoiar aquele que demonstrar mais chances de vitória. Além disso, firmaram posição no sentido de não apoiar nem votar no presidente Paulo Câmara, que se arma para disputar a reeleição. Foi uma iniciativa abertamente excludente contra o presidente da Câmara.

Por isso, se constituiu num fato político que teve impacto nas discussões sobre a sucessão à presidência da Câmara tão forte que levou o presidente do Legislativo a não deixar o movimento sem resposta. Paulo Câmara tratou de, em seguida, anunciar que só decidirá se é candidato à reeleição em dezembro, portanto, um mês antes do pleito, de forma a ganhar tempo e buscar neutralizar o jogo dos oponentes. Ato contínuo, o prefeito mandou um recado para os aliados na Câmara de que não aceitará conversa com qualquer dos nomes que busque se associar à bancada de oposição.

Na prática, com o grupo que lidera o “Câmara Democrática”, são seis os candidatos à presidência da Câmara que integram a base do prefeito, inclusive Paulo Câmara. E, pela maioria que o democrata formará na nova legislatura da Casa, com os vereadores que se elegeram em 3 outubro, dificilmente um deles vai precisar se articular com os votos das oposições para conseguir se eleger. Analisando em retrospecto, tanto a decisão do grupo dos cinco de colocar Paulo Câmara no campo adversário quanto a de Neto de avisar que não aceitará envolvimento de seus candidatos com as oposições são os lances mais importantes da sucessão até agora.

Não se descartam, entretanto, outros movimentos no decorrer da semana e neste interregno que leva até a eleição. Como num jogo de xadrez, o grupo dos cinco deve dar prosseguimento ao lance iniciado na semana passada, com nova iniciativa política, o que deve provocar uma nova resposta do presidente da Câmara. A maneira como a disputa se configurar até o momento da eleição, assistida de camarote por ACM Neto, deve produzir o novo presidente da Casa, um posto para o qual nenhum dos seis está, neste momento, descartado.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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