27 de outubro de 2016 | 07:38

Condenados à riqueza, por Raul Monteiro

exclusivas

Ouvi recentemente de um taxista em São Paulo que a Operação Lava Jato e outras supostamente determinadas a passar o país a limpo perdem tempo quando encarceram empresários e começam a fazer o mesmo com políticos, negociam com eles acordos de delação, colhem o que julgam conveniente para dar continuidade às investigações e os condenam a penas de prisão, na maioria das vezes, reduzidas por inúmeras atenuantes que a lei faculta. Em sua opinião, procuradores e juízes precisam de mais criatividade para enfrentar a criminalidade do colarinho branco.

Sua sugestão? Além, naturalmente, do resgate do dinheiro desviado, penas alternativas, a exemplo da determinação para que os condenados passem períodos habitando as unidades do Minha Casa, Minha Vida, frequentando exclusivamente a rede pública de saúde ou mandando seus filhos para as escolas municipais ou estaduais, usando ônibus e outros serviços que só os pobres são obrigados a utilizar. O objetivo do taxista? Levar a criminalidade de elite a conviver com aquilo a que mais tem horror e provavelmente a leva a construir as oportunidades para obter e acumular dinheiro a qualquer preço: a pobreza.

Sentir-se pobre, vivendo, obrigatoriamente, como pobre. Esta seria, na opinião do motorista de táxi, a verdadeira punição a que os ladrões do dinheiro público, todos eles, tanto os que atuam de forma organizada como individualmente, deveriam receber como forma de expiar a culpa que a Justiça lhes atribua por usurpar direitos coletivos. “Prender para quê? Para depois soltar e permitir que estes ladrões possam desfrutar de tudo o que roubaram? Dos seus carrões, de suas mansões, dos vinhos caros que mantêm em suas adegas refrigeradas? Qual deles ficou pobre?”, me questionou enquanto nos conduzia pelo pesado tráfego paulista.

Concordei com ele. Faz absoluto sentido sua avaliação, como mostra, dia após dia, o noticiário. Para ficar apenas em dois exemplos: não é Pedro Barusco, aquele gerente da Petrobras que devolveu R$ 150 milhões num acordo com a Força- Tarefa da Lava Jato que já foi visto algumas vezes sorvendo vinhos caros sob o sol de Búzios, onde possui uma mansão de frente para o mar? Este também não é o status de Sérgio Machado, um outro delator, que dirigiu a Transpetro, jogou lama sobre meio mundo político em sua colaboração premiada e agora passa os dias em sua propriedade numa praia paradisíaca do Nordeste onde nunca chove?

Até o cenário da Baía de Todos-os-Santos tem sido utilizado por gente que já foi trancafiada pelo juiz Sérgio Moro, devolveu milhões, mas continua aproveitando a vida e as tardes ensolaradas a bordo de lanchas e barcos de luxo. A nova vida boa dos delatores apenas comprova que, depois de alguns meses na cadeia e da pressão para que entreguem amigos, colegas e parceiros, todos voltam para suas vidas luxuosas, cercadas de mimos que só muito dinheiro banca como verdadeiro consolo por terem sido pegos pela lei. De fato, acompanhando o raciocínio de meu amigo taxista, vale a pena começar a pensar em como condenar estes corruptos à pobreza, como já nascem milhares de brasileiros roubados por eles.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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