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20 de outubro de 2016 | 07:38

A culpa não é só de Josias Gomes, por Raul Monteiro

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Há grande dose de maldoso exagero na tese de que Josias Gomes, secretário estadual de Relações Institucionais, é o principal responsável pelos problemas da articulação política do governo Rui Costa (PT), em relação à qual os deputados governistas se tornaram críticos ferozes. Até por sua trajetória e experiência, a acusação demora de encaixar na forma do político que concebeu a estratégia que culminaria na sua indicação para o posto atual, iniciada com a tomada do comando do PT da Bahia das mãos das forças que o controlavam e, inclusive, opunham certa resistência à escolha de Rui Costa para candidato do partido ao governo.

Portanto, para explicar seu alegado fracasso na posição de articulador político, o melhor seria dizer que, em algum ponto, a comunicação entre Josias Gomes e Rui Costa, a despeito da sabida grande admiração e respeito mútuos, falhou. Na verdade, de nada valerá ao governador simplesmente substituir seu atual secretário de Relações Institucionais com o objetivo de dar novo rumo e, pretensamente, mais energia e eficácia à pasta, a exemplo do que defendem lideranças como o ex-ministro Jaques Wagner, se não empoderar seu sucessor na medida do que a função exige.

A reflexão vem a calhar porque, entre alguns dos principais críticos da articulação política de Rui Costa, há os que reconhecem que, devido ao estilo centralizador do governador, qualquer secretário teria pouco a ajudá-lo no trabalho de monitorar e dar encaminhamento às demandas políticas crescentes que chegam ao governo. Em alguma medida, o próprio Rui Costa sabe das dificuldades do posto, o qual exerceu sob o governo do padrinho político Jaques Wagner, não sem ter se tornado, no período, fonte de várias críticas, inclusive daquelas que alvejam hoje Josias Gomes, como a de pensar mais no seu fortalecimento político e eleitoral do que no do grupo.

A diferença, como bem pontuou ontem em seu artigo nesta Tribuna o editor de Política Osvaldo Lyra, é que, a fim de respaldar seu então auxiliar contra o fogo amigo, Jaques Wagner chegou, num dado momento, a declarar que ele era Rui e Rui era ele, iniciativa que o governador nunca tomou em relação a seu atual secretário e, pelo visto, não tomará, caso, inclusive, se concretize a sua saída do governo. Sobre a ingrata posição que hoje ocupa Josias Gomes, não custa lembrar de um irônico comentário feito pelo democrata Heraldo Rocha logo no início do governo Jaques Wagner, época em que era deputado estadual.

Chegando a uma roda na Assembleia na qual os governistas se dedicavam a malhar o então secretário Rui Costa, Rocha não se conteve: – Pelo visto, esse Rui é pior do que aquele Lourival! Era uma referência a Lourival Magalhães, que fora secretário particular do governador Paulo Souto e era odiado por 10 entre nove políticos da base governista que o procuravam para resolver alguma pendenga no governo. Motivo de muita risada, a frase do democrata se espalhou entre oposicionistas e governistas na época. Vista em retrospecto, parece demonstrar que estar na ante-sala do poder estadual é bom, mas tem seu custo e ele é alto.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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