Foto: Estadão
Jaques Wagner 22 de agosto de 2016 | 07:25

Wagner se descola do impeachment, por Raul Monteiro

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A coluna Raio Laser, desta Tribuna, foi a primeira a notar a ausência do ex-ministro Jaques Wagner (PT) do fiasco em que se transformou o ato de lançamento da carta aos senadores e à sociedade da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), na semana passada. No lugar de Wagner, ao lado de Dilma, estavam antigos e fiéis escudeiros, a exemplo do ex-ministro Aloizio Mercandante, de quem, inclusive, o ex-governador da Bahia foi sucessor na Casa Civil, depois de travar com ele, por pressão do ex-presidente Lula, pequena rivalidade pelo cargo no ministério do segundo mandato da petista.

De lá para cá, Wagner seguiu sem dar palavra sobre a afastada até que, neste final de semana, jornais do Sul registraram que ele tenta se descolar do processo de impeachment, aludindo exatamente à ausência do ex-ministro no ato de divulgação da mensagem da presidente afastada. O objetivo, segundo jornalistas, é evitar desgastes, o que seria obtido mediante uma estratégia para não se expor na defesa da petista. O “recuo” de Wagner é mais um péssimo sinal para a presidente, entre tantos que ela nunca quis enxergar desde muito antes do início do seu processo de afastamento da Presidência.

Apesar do discurso de que Dilma é “sua amiga do peito”, no mundo político não há quem não saiba que Wagner é muito mais próximo de Lula do que de sua sucessora. Da mesma forma que já não é segredo para ninguém que, desde que percebeu que o afastamento era irreversível, o PT passou a encarar dona Dilma como um grande estorvo, opinião que não é muito diferente da do ex-presidente, faltando apenas a oportunidade mais propícia para que promovam o seu descarte, a qual parece estar finalmente se apresentando com o encerramento das etapas do impedimento.

O aparecimento de Dilma ao lado de colaboradores do naipe de Mercadante na apresentação da sua mensagem foi carregado de forte simbolismo. Para retomar parte da memória da cronologia que levou a presidente afastada ao beco sem saída em que se meteu, enfiando o país num buraco, basta lembrar que ao ex-ministro da Articulação Política foi atribuída parte da responsabilidade pelo insucesso de sua relação com o Congresso, piorando a já péssima reputação da então presidente com deputados e senadores que acabaram por defenestrá-la do Palácio do Planalto.

Em outras palavras, Dilma, de fato, entregou os pontos ao aparecer ao seu lado naquele evento, apesar da promessa de se defender pessoalmente no Senado na próxima segunda-feira. Quanto a Lula e ao PT, Wagner como fiel representante do ex-presidente incluído, só esperam o momento mais oportuno de jogar a ex-”gerentona” e ex-”Mãe do PAC” do avião em movimento, mesmo porque é vital para eles deixar que o país caracterize Dilma como a grande responsável pelo desastre moral, econômico, político e administrativo do petismo, esquecendo-se de que a gestação de todo o descalabro começou muito antes, com o lulismo.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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