Foto: Veja/Abril
29 de agosto de 2016 | 09:18

Nem a renúncia salva Dilma, por Raul Monteiro

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Vai morrer na praia quem ainda acredita que a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) poderá dizer algo de interessante no pronunciamento que prepara logo mais para o Senado, onde o seu processo de impeachment, por sua própria culpa, se arrasta há oito meses, impondo ao país o custo altíssimo, já precificado inclusive, da interinidade. Se o marqueteiro de Dilma, o baiano João Santana, não estivesse fora de combate por determinação da Operação Lava Jato, que o prendeu e à sua mulher por meses, ainda se poderia esperar pelo menos uma forma bem elaborada ao que a afastada pretende dizer.

Sem esse detalhe no processo, entretanto, podemos todos prepararmo-nos para mais uma insignificância. Na verdade, só haveria uma alternativa para Dilma sair do lugar comum e da irrelevância em que transformou a própria defesa contra o seu afastamento temporário da Presidência da República: fazer um sincero pedido de desculpas à Nação, elencando, um a um, todos os erros que cometeu e levaram o país à bancarrota para, em seguida, renunciar, poupando-nos a todos de no mínimo mais um ou dois dias do desgaste que a sua presença no comando do país, ainda que na condição de afastada, tem provocado.

Tal iniciativa já não seria, é bem verdade, um ato de grandeza, porque até para se constituir como tal teria que ter vindo no timing correto, o que nem isso Dilma, com suas conhecidas dificuldades, aproveitou. Lá atrás, poderia, sim, ter livrado o país dos constrangimentos sob os quais ainda vive desde o início do processo de impeachment no qual os deputados tiraram Dilma do comando da Nação, mas não deram posse definitiva ao seu sucessor constitucional. Se, ao contrário, a presidente afastada pretende, como se espera, fazer aquele velho e manjado discurso da vítima, estará apenas se repetindo.

Afinal, vítima mesmo é o país, com a inflação que bate à porta e provoca uma carestia desenfreada, prejudicando principalmente os mais pobres, com os juros na estratosfera e com o seu contingente de 12 milhões de desempregados, além de uma dívida pública astronômica que só dificulta a retomada da atividade econômica, a qual, segundo todos os prognósticos, só poderá vir se precedida de um conjunto de medidas com cujo custo mais uma vez os mais pobres para os quais Dilma dizia o tempo todo estar governando já começaram a pagar desde o início do grande equívoco em que foi o seu segundo mandato.

Portanto, achar que, com sua ida hoje ao Senado, a presidente sairá da posição de afastada para entrar para a história, marcando esta pequena transição como algo relevante para a sua biografia e a dos que a defendem, não passa de um delírio que não tardará a sucumbir à dureza da realidade, a mesma que, desmascarando toda a propaganda oficial e a boa vontade dos que a defendiam como “a gerentona” ou a primeira “presidenta” da história do Brasil, foi, aos poucos, revelando o fracasso de um projeto político continuísta, atrasado e incompetente, para não dizer o resto…

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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