Foto: Divulgação
As delações premiadas de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e da Odebrecht são hoje as mais temidas e aguardadas 07 de julho de 2016 | 07:47

O melhor negócio da política, por Raul Monteiro

exclusivas

As delações premiadas de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e da Odebrecht são hoje as mais temidas e aguardadas, especialmente a da empresa, não apenas porque trazem a suspeita de que vão espalhar ainda mais denúncias contra a classe política, mas principalmente porque podem, inclusive, provocar mudanças no teor de revelações já feitas pelos primeiros delatores, a exemplo da construtora Camargo Correa, e do baiano Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC. Entre políticos, há o convencimento de que Pessoa, por exemplo, pode ter selecionado o alvo de suas delações de forma a não avançar em pontos que julgava “desnecessários”.

Nada impede que o mesmo estratagema tenha sido utilizado pela Camargo Correa, que não avisou a suas parceiras de negócios que assinaria um acordo de leniência, aproveitando-se, como políticos suspeitam que fez o dono da UTC, das vantagens de ter sido ela uma das primeiras empresas a inaugurar o procedimento com a força-tarefa da Lava Jato. Com o confronto de informações que tem presidido as apurações dos procuradores federais que tocam a operação, entretanto, nada impede que, depois que Odebrecht e Léo Pinheiro abrirem a boca, as investigações ganhem ainda novos e mais amplos contornos, afetando a muito mais gente e até influindo na revisão das primeiras delações.

O acordo com a Odebrecht confirma o que já tinha sido tratado aqui mesmo neste espaço com relação à empresa fundada na Bahia. Ele só tem podido avançar porque os investigadores se convenceram de que o grande poder de delegação com que seus executivos atuavam permitiu a construção de relações e esquemas que escaparam ao controle da liderança maior da companhia, representada pelo seu ex-presidente e herdeiro, Marcelo Odebrecht. Na empresa, comenta-se que não teria sido pequena a surpresa de Marcelo diante de determinados fatos revelados pela operação, como se, em alguns aspectos, verdadeiros universos paralelos funcionassem nas suas entranhas.

Trata-se de percepção partilhada pelas chefias que não têm nem nunca tiveram qualquer conexão com os assuntos apurados pela Lava Jato. Não será, portanto, pequeno o impacto das revelações do conjunto de executivos envolvidos nos esquemas apurados pela Lava Jato nem a grande contribuição que se aguarda que darão à continuidade das investigações. Inclusive, sobre o que já foi revelado até o momento, a partir dos acordos dos empreiteiros que se tornaram pioneiros do processo de delação premiada utilizado de forma mais abrangente, pela primeira vez, pelos investigadores sediados em Curitiba.

Embora as ações da Lava Jato tenham se tornado tão corriqueiras que pareçam redundantes no noticiário, consequentemente despertando menos interesse na população do que provocaram no seu início, o estrago em carreiras e reputações, mas sobretudo nas fraudes e desvios que se perpetraram no país envolvendo políticos e agentes públicos que deveriam zelar pelo patrimônio do cidadão, continua inabalável. A se lamentar apenas que, enquanto empresários são mantidos encarcerados e conduzidos à prisão a toda hora, os políticos permaneçam soltos, confirmando que conquistar um mandato e obter foro privilegiado continua um dos melhores negócios no país.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
Comentários