Foto: Política Livre
Dilma em recente visita à Assembleia, onde recebeu título de Cidadã Baiana 30 de junho de 2016 | 08:11

Vai contribuir com a vaquinha?, por Raul Monteiro

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Só alguns esquerdistas ainda não se deram conta de que falar de Dilma Rousseff é verdadeiramente uma perda de tempo. Sua entrevista ao radialista Mário Kertész, da Rádio Metrópole, na última terça-feira, no entanto, foi uma peça de nonsense tão perfeita que não há como não fazer referências à presidente afastada. Para começar, Dilma se disse arrependida de ter escolhido o hoje presidente interino Michel Temer (PMDB) para seu vice. Mesmo que tivesse sido Dilma o agente da escolha de Temer, o que o mundo todo sabe não ser verdadeiro, seu arrependimento não deve ter sido maior do que o de Lula ao tê-la escolhido para sucedê-lo.

Mas vejam a frase de Dilma fazendo-se de arrependida: “O erro mais óbvio que cometi foi a aliança que fiz para levar a Presidência nesse segundo mandato com uma pessoa que explicitamente [Michel Temer], diante do país inteiro, tomou atitudes de traição e usurpação”. Liderança política de luz própria e incandescente de tão forte, ela não parou por aí. “Claro que não é uma questão pessoal. Não acho que o vice-presidente representa a si mesmo. O grupo que ele representa, e o encontro com Eduardo Cunha [no último domingo] mostra isso, é um grupo político. E eu errei em fazer aliança com esse grupo político”, completou.

Do mesmo jeito que, na análise política de Dilma, Temer representa um grupo, no qual se inclui o político mais odiado do país, o abominável Eduardo Cunha, um dia Dilma representou Lula. Pelo menos até revelar a força de sua cabeça dura e destruir a economia do país, hoje com um saldo de quase 12 milhões de desempregados, sobre os quais, diga-se de passagem, ela não dá o menor sinal de que se responsabiliza. Sim. Dilma representou Lula e foi o ex-presidente da República que escolheu Temer, mesmo sendo ele um autêntico representante do PMDB, o partido mais fisiológico do país, para ser o vice dela.

Lula não levou em conta o grupo que Temer representa, como disse Dilma, nem a hipótese, passível para qualquer detentor de mandato majoritário, de que ele poderia eventualmente sucedê-la por força de seu governo se tornar insustentável, como aconteceu. O resultado é exatamente este: o país comandando pelo PMDB, o mesmo PMDB de que o PT se tornou sócio nas estatais brasileiras, das quais a Petrobras é o exemplo mais iluminado, mas que hoje se tornou o pior dos partidos na visão dos petistas. Mas Dilma não pára por aí não. Ela quer percorrer o país e para isso lançou mão de uma espécie de crowdfunding.

É um termo inglês que pode ser definido grosseiramente como vaquinha, com a qual ela pretende viajar o Brasil para divulgar a tese de que foi traída pelo Congresso e o PMDB do qual o PT foi parceiro desde que chegou ao poder. A iniciativa não deixa de remeter àquele crowdfunding de que José Dirceu lançou mão para pagar uma multa de quase R$ 1 milhão aplicada pela Justiça a ele como parte da pena de condenação no mensalão. No período, soube-se depois, o pobrezinho do guerreiro do povo brasileiro embolsou o equivalente a R$ 30 milhões em negócios com empreiteiras que serviam ao governo. E aí, vai contribuir com essa vaquinha?

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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