Foto: Política Livre
Deputada federal Alice Portugal 27 de junho de 2016 | 07:55

A oportunidade do PCdoB em Salvador, por Raul Monteiro

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Com a virtual consolidação da candidatura da deputada federal Alice Portugal à Prefeitura de Salvador, o PCdoB sabe que pode até não ganhar a eleição para o prefeito ACM Neto (DEM). Mas, ao mesmo tempo, tem convicção de que, a depender da condução da campanha e da performance da candidata, pode fincar definitivamente raízes fortes na capital baiana, principalmente neste momento de decadência da esquerda brasileira, em especial do PT, do qual os comunistas historicamente souberam se tornar, com muita habilidade, sócios mais eleitorais do que políticos, sem arcar, portanto, com os mesmos ônus da ocupação do poder.

O momento é agora, pensam naturalmente os comunistas, quando veem os efeitos devastadores de Operações como a Lava Jato sobre os parceiros do PT e outros sócios mais ativos do petismo, a exemplo do PP e do próprio PMDB. Em Salvador, o PCdoB tinha o sonho antigo de sustentar uma candidatura majoritária, primeiro passo para pensar num projeto mais ambicioso, a exemplo do governo do Estado, mas nunca teve a devida oportunidade, ou pelo menos os recursos, nem viveu a expansão e consolidação experimentadas pelo aliado petista.
Na campanha passada, a própria Alice protagonizou o mesmo movimento, mas a estratégia era outra.

Tratava-se mais de forçar o PT a encarar o PCdoB como parceiro preferencial para a disputa pela Prefeitura de Salvador, o que, afinal, foi um movimento bem- sucedido. Na hora H, os comunistas tiraram Alice da disputa e empurraram a então vereadora Olívia Santana como vice do candidato petista, Nelson Pelegrino. O resultado todo mundo lembra qual foi, mas, mais uma vez, naquela oportunidade, o PCdoB mostrou que era parceiro do PT. A decisão de agora, relativa à candidatura de Alice, mostra, no entanto, uma alteração de postura dos comunistas, de olho numa mudança de conjuntura que se traça desde a Lava Jato, da qual o virtual apoio do PT e do PSB são mais um sinal.

Eles acham que podem naturalmente herdar um espaço que o PT está perdendo, por força de descobertas policiais escandalosas e dos constrangimentos políticos de toda a sorte aos quais os petistas têm sido submetidos, colocando-se como alternativa para um eleitorado de esquerda que pode se tornar órfão da representação do petismo. É claro que o cálculo não é simples do que jeito que se apresenta, mas a oportunidade de uma mudança está colocada, dependendo, basicamente, da maneira como o PCdoB vai utilizar a história, os fatos e a realidade para alcançar seus objetivos.

Como diz um ativista comunista, é hora de o partido definir se quer continuar pequeno como está, na posição de dependente leal da caridade do PT, ou alcançar um novo patamar em sua história, o que acredita que vai exigir, inclusive, uma revisão de sua visão de mundo e de país, onde, inclusive, não há, graças a Alá, qualquer espaço para a implantação do comunismo. Por este motivo, alguns veem a candidatura de Alice não apenas com o propósito de fazer o enfrentamento na capital baiana, mas de lançar uma semente de transformações que podem refundar o partido e seu papel na política local e nacional.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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