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Prefeito de Camaçari Ademar Delgado (PT) 11 de fevereiro de 2016 | 07:28

O novo abrigo partidário de Ademar, por Raul Monteiro

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Para quem é acusado de não dominar as artes da política, o prefeito de Camaçari, Ademar Delgado (PT), acaba de revelar um tirocínio que não se encontra em muitos de seus companheiros de partido. Quando insinuou que poderia migrar para o PCdoB, buscando um novo abrigo partidário fundamentalmente para não ser obrigado a apoiar a candidatura do ex-correligionário Luiz Caetano à própria sucessão, muitos dos seus assessores próximos não esconderam o temor de que o tiro saísse pela culatra e a manobra, ao invés de ajudar-lhe, acabasse por inviabilizá-lo e ao seu governo.

Então, temiam que o PCdoB, como um partido satélite do PT, recuasse na ideia de abrir as portas para Ademar, deixando-o ao sereno e sob a indignação e a ira implacável do petismo. Ledo engano. A julgar pelas declarações que se colhe aqui e ali entre os comunistas sobre a ideia do prefeito de se desligar do PT para ingressar no novo partido, o PCdoB não só está de portas abertas como ansioso para receber o seu mais novo e importante integrante. Afinal, não é todo dia que um prefeito de uma cidade como a de Camaçari bate à porta da nanica legenda na Bahia.

“Eu acredito que ele (Ademar) tem uma participação importante como técnico e como político, tem uma participação de luta e é claro que saberá escolher o melhor caminho. O PCdoB vai esperar de portas abertas, pois é uma pessoa que nós respeitamos e valorizamos”, disse ontem a secretária estadual de Políticas para as Mulheres, Olívia Santana, ao site Política Livre, ao comentar os rumores de que Ademar pode se filiar ao seu partido. Ela não afirmou nada diferente do que pensam nomes como a deputada federal Alice Portugal e o presidente estadual do PCdoB, o deputado federal Daniel Almeida.

Como candidata à Prefeitura de Salvador que já firmou posição de concorrer à sucessão municipal mesmo que não tenha o apoio do PT, Alice não poderia pensar de forma diferente. Como um político que vem tentando fortalecer sua agremiação no Estado, Daniel não pode também posicionar-se diferentemente da colega de partido. Registrar o ingresso de Ademar em suas fileiras é um alento para o partido que, há anos, enfrenta a dura batalha de crescer sob as abas de um petismo que, desde que se tornou governo no Estado, vem absorvendo todas as energias que emergem no esquerdismo.

Ademar pode optar por filiar-se ao PCdoB porque a candidata que pretende apoiar em Camaçari, Jailce Andrade, sua secretária de Governo, é um antigo quadro comunista no município. E, principalmente, porque ao deixar clara sua dificuldade de apoiar o candidato petista na cidade, viu o chão do petismo abrir-se à sua frente, ameaçando engolí-lo sem dó nem piedade. Ocorre que os petistas esqueceram de que estavam a lidar com a vontade do prefeito de uma das mais importantes cidades da Bahia, dona de uma das maiores arrecadações do Estado. O PCdoB, que, curiosamente, já governou a cidade com Luiz Caetano, décadas atrás, ao contrário, parece não ter esquecido da experiência.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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