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Ministro da Casa Civil e ex-governador Jaques Wagner (PT) 30 de novembro de 2015 | 07:27

Dificuldades no caminho de Wagner, por Raul Monteiro

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Não tem sido boa a vida do ex-governador Jaques Wagner (PT) em Brasília desde que, por pressão do ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff (PT) o moveu do Ministério da Defesa para a pasta da Casa Civil numa tentativa desesperada de melhorar sua articulação política com o Congresso. O maior desafio de Wagner no momento é convencer a bancada de seu partido na Câmara a ajudar a salvar o presidente da Casa, o peemedebista carioca Eduardo Cunha, que quer fazer todo mundo acreditar, inclusive os deputados petistas, que a fortuna que mantém em paraísos fiscais tem origem em negócios lícitos.

Usando as prerrogativas que possui e as que incorpora na medida de sua necessidade, Cunha tem conseguido fazer o diabo para empurrar com a barriga a votação do seu pedido de cassação no Conselho de Ética na Câmara. No colegiado, o PT tem três membros que não engolem – no que não estão sozinhos, aliás – esta história de enriquecimento do deputado com venda de quentinhas para um país africano. E, como tal, não querem votar nem a pau pela absolvição do presidente da Câmara. Mas Wagner não quer deixar que os petistas ajam com a própria consciência.

Precisa dar uma demonstração urgente a Cunha de que o PT quer ajudá-lo. É a única forma de evitar que o presidente da Câmara abra o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, cada vez mais encalacrada com a péssima situação econômica do país, a deterioração do ambiente político, os escândalos de corrupção e a crise moral que envolvem seu governo e o seu partido. Num jantar reservado na semana passada, Cunha anunciou qual é sua estratégia em relação ao impeachment. Ele o abriria na Casa, criando as condições para a substituição de Dilma, em duas hipóteses.

Primeiro, no caso de ser condenado no Conselho de Ética. E, segundo, na hipótese de ser absolvido, mas não contar com os votos favoráveis dos petistas na Comissão. Seria uma resposta duríssima à posição de um partido que, na análise de Cunha, posa de ético, mas no fundo é pior do que ele e muitas outras figuras execradas pela opinião pública no Congresso. Wagner já tinha tomado conhecimento da estratégia de Cunha muito antes de o jantar do peemedebista carioca ter sido oferecido aos líderes de partidos na Câmara. Por este motivo, agendou uma conversa com a bancada petista também na semana passada.

Ocorre que foi peitado não apenas pelos três membros do PT no Conselho de Ética, como pelo resto da bancada. Só teriam poupado o ministro chefe da Casa Civil, por uma questão de consideração a quem foi governador do Estado e ajudou uma parte deles a se eleger, os deputados federais do PT baiano. A larga maioria, entretanto, deixou claro que não está disposta a pagar o preço de absolver Cunha e enfrentar um eleitorado cada vez mais descrente do partido de Lula e Dilma. Como um político profissional, Wagner ainda não capitulou. Mas nunca enfrentou momento tão difícil.

* Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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