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Governador Rui Costa (PT) 30 de julho de 2015 | 07:35

Sem muita margem para negociar, por Raul Monteiro

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Auxiliares do governador Rui Costa (PT) estavam até a noite de ontem indignados com a nota pública paga pelo comando de greve dos professores das universidades estaduais, paralisados há 80 dias. Em resumo, o documento chamava o governo de autoritário por ter convocado a polícia a fim de auxiliar na desocupação da secretaria estadual de Educação, responsável pela negociação com os grevistas. E prometia dar continuidade ao movimento paredista nos próximos dias num sinal de claro desinteresse à proposta de entendimento do governo.

O governador não esconde de ninguém seu descontentamento com o comando da secretaria neste episódio específico do relacionamento com os professores universitários que redundou na paralisação. Acha que seus auxiliares principais na pasta descuidaram da relação com a categoria a ponto de permitirem que os esquerdistas radicais do PSOL, do PSTU e, em Salvador, do PCdoB, assumissem o controle do movimento, agitando bandeiras contra um governo de continuidade que, em sua avaliação, vem historicamente buscando atender as reivindicaões dos servidores.

Do que os auxiliares mais próximos de Rui se queixam é do que consideram falta de racionalidade do movimento, cuja estratégia básica, na opinião da administração, é a de manter a negociação em aberto o tempo inteiro, como se nada o contentasse. O governo alega, por exemplo, que, da extensa pauta apresentada pela categoria, a grande pendência é a proposta de aumento do percentual de transferência de 5% para 7% da arrecadação líquida do Estado para as universidades estaduais, desconsiderando uma crise que aflige a todos os entes federados, inclusive, fortemente, a Bahia.

Aliás, é a fragilidade da pauta apresentada pelo movimento, cuja qualidade é questionada pela secretaria de Educação, aliada ao fato de que o governo não está fraco nem do ponto de vista político nem administrativo, que reforça a avaliação da administração de que os grevistas não podem esticar a corda como estão tentando desde o momento em que a paralisação foi deflagrada. Hoje, são colocados na conta do governo anterior como verdadeiras bombas fiscais concessões ao funcionalismo que permitiriam, entre outros benefícios, que professores universitários se aposentem com mais de R$ 15 mil mensais.

Os tempos eram outros e ninguém parecia preocupado como agora, quando o país mergulha numa crise que está fazendo os mais perdulários reverem seus conceitos e hábitos. “Os servidores precisam entender que, com a situação fiscal do Brasil, da Bahia e do mundo não dá mais para brincar”, diz um funcionário que acompanha as negociações pelo lado do governo, preocupado com o que chama de falta de sensibilidade do funcionalismo para o momento de aperto que o Estado vive, provocado pela crise. Para ele, não adianta radicalizar, porque as margens para negociar nunca foram tão diminutas.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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