Foto: Max Haack/Agecom
Prefeito ACM Neto (DEM) 18 de junho de 2015 | 08:02

Motivos para a ansiedade de Neto, por Raul Monteiro

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A articulação política de Rui Costa (PT), petistas de um modo geral e outros aliados do governador estão, como eles próprios afirmam, se divertindo com a ansiedade que dizem vir notando no prefeito ACM Neto (DEM) com relação ao seu destino partidário. Neto apostou forte na fusão de sua agremiação com o PTB, a qual parece ter empacado, depois de muitos solavancos. Paralelo a isso, avaliando uma espécie de plano B, passou a analisar a hipótese de ingresso no PSB, na perspectiva da aventada fusão do partido com o PPS, que é seu aliado no campo municipal, mas o projeto também enfrenta agora muitas dificuldades.

Até um membro do PSB, tão histórico quanto petista, Roberto Amaral, tem se dedicado à tarefa de relembrar aos companheiros de legenda quem foi o ex-senador ACM na tentativa de dissuadí-los de qualquer aproximação com o prefeito de Salvador. Uma outra alternativa à mão de Neto seria o PMDB, que também integra sua base de sustentação, mas, pelo visto, não assegura a tranquilidade de que o prefeito gostaria de desfrutar e está no âmago do seu desejo de migrar para uma outra legenda diferente do DEM, à qual pertence desde criancinha ou desde quando se lançou oficialmente na política.

Neto poderia entrar no partido por cima, ou seja, via o vice-presidente da República, Michel Temer. Até em jantar exclusivíssimo foi recebido junto com a bancada federal do Democratas em Brasília pelo vice-presidente, que hoje comanda, aos trancos e barrancos e sobre algumas cascas de bananas colocadas pelos petistas, a articulação política do governo Dilma Rousseff (PT). Mas isto, sem dúvida, abriria uma crise com a seção baiana do partido, comandada pelo ex-ministro Geddel e seu irmão, o deputado federal Lúcio Vieira Lima, o que, definitivamente, não está nos planos do prefeito. Migrando para o PMDB, Neto pode vislumbrar algumas vantagens.

A maior delas é não precisar escolher um vice do partido pelo qual disputará a reeleição. Mas o prefeito, como qualquer liderança política em ascensão com profundo entendimento dos meandros da vida partidária no país, quer um partido para chamar de seu, projeto a que, a menos que resolva enfrentar uma grande briga, com seus consequentes desgastes, o PMDB da Bahia não se prestará. Quando pensa em sair do DEM, depois do praticamente malogrado projeto de fusão com o PTB, o prefeito planeja um cenário de mais conforto para que possa definir as alianças com que pretende disputar a reeleição.

Exatamente porque, na hipótese de reeleger-se, Neto pode deixar o cargo em 2018 a fim de disputar o governo, sua vice é hoje alvo de uma cobiça desenfreada, principalmente por parte daqueles que têm consciência de que só por herança conseguirão assumir um cargo que ele galgou pelo voto. Estando num partido maior, dono de tempo de televisão superior ao que o nanico DEM dispõe hoje, Neto sabe que estará mais fortalecido para negociar com os próprios aliados os termos do apoio à sua reeleição. De fato, o prefeito tem realmente motivos de sobra para estar ansioso em relação a uma mudança partidária.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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