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Lula pode ser um dos mais poderosos políticos do país a temer o teor das revelações de Pessoa 18 de maio de 2015 | 07:36

Pessoa, Lula e o rapaz esnobe, por Raul Monteiro

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Não é só Lula que anda aflito com o que já pode ter delatado e ainda pode delatar o empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC, empresa apontada na Operação Lava Jato como uma espécie de coordenadora do clube de empreiteiras que operava um esquema de corrupção na Petrobras. Lula pode ser um dos mais poderosos políticos do país a temer o teor das revelações que Pessoa começou a fazer em troca da redução da pena a que pode ser condenado no processo que investiga o Petrolão, mas não está sozinho. Antes de fazer a delação, Pessoa já havia passado várias informações aos procuradores responsáveis pelas apurações.

Numa de suas declarações, assegurou ter transferido cerca de R$ 2,5 milhões a Lula não se sabe a que título. Para a campanha da presidente Dilma Rousseff, pupila do ex-presidente, o valor teria sido muito maior, segundo revelou. Algo em torno de R$ 7,5 milhões. Portanto, se o ex-presidente anda preocupado, não deve ser outro o sentimento da atual mandatária, que ainda labuta com uma crise política e econômica de grandes proporções, causada, em boa medida, por sua incompetência como gestora e a cada vez mais patente incapacidade de comandar o país politicamente.

O que mais atemoriza políticos como Lula e Dilma é o fato de, com as primeiras revelações, Pessoa já ter antecipado a linha que deseja imprimir à delação: a de que foi coagido pela turma do PT a promover os trambiques sob pena de perder seus contratos na estatal. Lula e Pessoa são amigos íntimos. Conta-se que os dois costumavam viajar juntos ao exterior no jatinho da Presidência. O fato de o empreiteiro ser da Bahia empresta um indefectível contorno regional às revelações. Afinal, a lógica leva qualquer um a deduzir que, se Pessoa deu tanto dinheiro para Dilma e Lula, deve ter dado também a outros companheiros petistas na Bahia.

Na verdade, não só a petistas, como a políticos de outros partidos também. No campo estadual, a língua solta de Pessoa já começar a fazer estragos consideráveis em algumas reputações. No acordo que assinou, o dono da UTC disse, segundo o jornalista Lauro Jardim, da Veja, que deu dinheiro ao advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União, o ministro baiano Aroldo Cedraz, para abrir caminhos no TCU às obras de Angra 3. Até então, pelo menos na Bahia, ouvia se falar pouco de Tiago, que, no entanto, parece não gozar de grande simpatia nem na própria família.

Segundo um amigo do pai, o rapaz tem fama de grã-fino e costuma referir-se à parentada local jocosamente como “aquela baianada”. Antes do estouro do Petrolão, Pessoa era um homem muito poderoso, que frequentava alguns dos palácios governamentais de maior prestígio e força no país, além de residências de políticos famosos em Brasília, São Paulo e Bahia. A ele, na tentativa de se defender, Lula jamais poderá se referir como a um bandido que virou herói, como disse sobre os demais delatores na tentativa de desqualificá-los.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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