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27 de abril de 2015 | 08:12

Uma liderança sem cabeça, por Raul Monteiro

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Realmente muito simpático da parte do ex-presidente Lula exibir-se num vídeo postado em sua conta no Facebook mostrando que deixou uma vida sedentária para dedicar-se a atividades físicas que o fazem sentir-se cada vez melhor. Mas será que ele realmente acredita que poderá inspirar pessoas nesta altura do campeonato, quando o maior ícone do patrimônio nacional, a Petrobras, tem que apresentar um balanço computando o número – que todos sabem ter sido simbólico, ainda que exorbitante – de nada menos que R$ 6,2 bilhões com corrupção?

Dirigindo-se à câmera, Lula diz logo no início da gravação, muito bem produzida por sinal, o que deixa claro se tratar de iniciativa profissional, que está “preocupado com a sua saúde”. Com a minha, com a sua, com a nossa, leitor. E explica que resolveu divulgar as imagens dos resultados de seu esforço numa academia de musculação, acompanhado de personal trainers naturalmente muito bem pagos, “como contribuição às pessoas”. Numa postagem em seu blog no sábado, um dia depois da web-investida de Lula, o jornalista Ricardo Noblat resolveu logo revelar a história por trás do vídeo.

Segundo o blogueiro, Lula não está interessado na saúde de ninguém. Fez a postagem com o único objetivo de mostrar a quantos possam vê-lo falando sobre práticas saudáveis e exercitando-se que está em ótima forma para entrar na disputa pela sucessão da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2018. O jornalista lembra que não são poucas as vezes em que ressurgem boatos de que Lula estaria doente, que o câncer que contraiu na laringe teria voltado. De fato, recentemente, um jornalista chegou a ser processado pelo ex-presidente por divulgar que ele fora internado às pressas sob sigilo.

É claro que a avaliação de Noblat parte de uma dedução lógica, focando na mensagem subliminar e mais importante que o ex-presidente quer transmitir. Lula é um político nato, talvez dos mais inteligentes que o Brasil já teve, motivo porque frequentemente fala e age para além do que expressa literalmente. Curioso é apreciar como a iniciativa tira o ex-presidente do foco da notícia mais importante da semana, a de que a Petrobras conseguiu finalmente ter seu balanço auditado, o qual, pela primeira vez em sua história e na do país, registra prejuízo assombroso, mais de um quarto dele com a roubalheira que quem conhece a realidade da estatal calcula ter sido infinitamente maior.

Ante a assombro da sociedade com os números e a incompetência da oposição em aproveitá-los para criticar as gestões petistas na companhia, correspondentes ao período em que a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, investiga os desmandos na Petrobras, não se ouviu uma palavra de Lula sobre o assunto. É como se ele tivesse sido presidente de outro país. Ou não fosse a maior estrela do PT e desconhecesse por completo a companhia cujos presidentes escolheu a dedo em suas gestões. É como se, sob o comando de Lula, Dilma Rousseff não tivesse sido nomeada ministra das Minas e Energia, chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobras.

É como se, no mesmo período, quando os descalabros ainda andavam encobertos, Lula nunca tivesse utilizado a empresa para se autopromover e ao seu governo, além da sua então candidata. Impossível que a percepção do descompasso entre o que acontece no país sob a responsabilidade do time de Lula e o seu comportamento não leve a algumas conclusões. A exaltação do ex-presidente ao corpo no momento atual, quando os homens de boa fé estão estarrecidos com a dimensão da pilhagem promovida no país nos governos petistas, parece sugerir tratar-se de um líder sem cabeça, o sítio da mente onde, segundo a psiquiatria, mora a consciência.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro
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