30 de abril de 2015 | 08:06

A esperança em Moro que não morre, por Raul Monteiro

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A libertação de nove executivos que haviam sido presos na Operação Lava Jato pelo Supremo Tribunal Federal, anteontem, recolocou na boca dos que ainda acreditam na Justiça aquele conhecido gostinho de pizza a que estão todos tão acostumados no Brasil há tanto tempo. Pudera: a informação de que seriam todos soltos já circulava antecipadamente em vários setores e na imprensa como uma espécie de resposta e contenção do STF às medidas duríssimas que o juiz Sérgio Moro, condutor das investigações, tem adotado no sentido de apurar a roubalheira do petrolão.

De fato, há plausibilidade no argumento de que as prisões preventivas não podem ser estendidas indefinidamente como forma de fazer detentos falarem. Como bem assinalou uma autoridade esta semana, na prática, o prolongamento das detenções passou a se constituir num instrumento de tortura psicológica cujo objetivo, no fundo, é fazer o preso revelar tudo o que sabe, sem que se leve em conta que direitos podem estar sendo claramente desrespeitados. Ocorre que se a Operação Lava Jato chegou a tal nível de profundidade, ajudando a revelar o grande esquema de corrupção que se formou na Petrobras, foi graças às delações.

E o instituto funcionou porque os executivos emparedados agora pela Justiça, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal encararam como lição o que aconteceu lá atrás no mensalão, quando os empresários envolvidos na roubalheira decidiram fechar o bico na esperança de contarem com proteção política para serem libertados e hoje amargam condenações de mais de 40 anos de cadeia. Portanto, foram a disposição de colaborar ou a coação, por meio da prisão ou do medo das consequências da aplicação da lei, que levaram à condição de delatores vários dos investigados.

A corroborar a tese de que o país pode ver a Lava Jato transformada numa grande pizzaria com o auxílio do Supremo Tribunal Federal está a coincidência entre a libertação dos presos e os recados emitidos por alguns deles por meio de reportagens publicadas no final de semana no sentido de que estariam dispostos a envolver os políticos mais poderosos do PT no lamaçal apurado pelos investigadores. Um dos beneficiados pela decisão dos ministros do STF, o presidente da OAS, Léo Pinheiro, teria, segundo a revista Veja, durante os seis meses de confinamento, rabiscado mensagens que seriam verdadeiros recados para o ex-presidente Lula.

Figuras próximas a Moro consideram que, apesar de ele não ter emitido palavra sobre a decisão dos ministros do STF, a avaliação do juiz é a de que o processo de investigação sofrerá um grande dano. É claro que, mesmo com o recrudescimento das condições adversas que lhe estão sendo criadas pelos poderosos, Moro ainda tem instrumentos para dar prosseguimento às apurações e concluir seu trabalho dando uma resposta aos que acreditam nas instituições do país ou, no momento em que elas fraquejam por excesso de influência política, na decência de alguns homens como ele mesmo, a partir de quem o povo está vendo a história do Brasil reescrita com mais transparência.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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