Foto: Divulgação
Nestor Cerveró teria recebido de U$ 20 milhões a $30 milhões para aprovar compra de Pasadena, segundo delator 26 de janeiro de 2015 | 09:09

Tolerância zero com trambiqueiros, por Raul Monteiro

exclusivas

Quando surgiu no noticiário, a informação sobre a escandalosa compra pela Petrobras da refinaria de Pasadena, nos EUA, era apenas isso: uma notícia relativa a um novo mau negócio executado por um governo cujo paradigma administrativo é o de fazer péssimas escolhas no campo econômico, desconsiderando frontalmente todos os pilares que o permitiram chegar até os dias atuais. É claro que uma aquisição daquela monta, contrariando todos os indícios de que se tratava de uma boa compra, levantava suspeitas naturais de que servira basicamente para encobrir interesses escusos, como desvios de recursos públicos e pagamento de propina.

Então, a operação Lava Jato, da Polícia Federal, não havia sido deflagrada, pelo menos publicamente, pondo na cadeia diretores e gerentes da Petrobras e alguns dos donos do poder empresarial no país. Mas vem agora o maior delator da máquina de corrupção da Petrobras, o senhor Paulo Roberto Costa, ex-diretor da companhia sob as vistas de quem, segundo ele próprio, se perpetrou o infindável esquema de trambicagem que está sendo revelado na estatal, e relaciona, literalmente, uma coisa com a outra. Costa premiou o noticiário, por meio de mais uma de suas delações, com a informação de que recebeu uma bolada para fazer vistas grossas à transação de Pasadena.

Ele botou no bolso U$ 1,5 milhão para ficar caladinho e não denunciar que a compra da refinaria norte-americana continha, sim, elementos que poderiam embargá-la por órgãos de controle da própria estatal por motivos óbvios: as vantagens da operação para a Petrobras não eram claras ou, muito pelo contrário, a estatal poderia sofrer um enorme prejuízo, repartindo-o com o contribuinte brasileiro e os seus acionistas, como está acontecendo. Segundo o próprio Costa, a compra do voto de outra figura de lamentável destaque da República nos dias atuais, Nestor Cerveró, teria sido infinitamente mais cara.

Cerveró, que também se encontra preso e deve começar a soltar a língua com medo de amargar uma eternidade na cadeia, como gente que participou do conhecido mensalão, a exemplo do publicitário Marcos Valério, até hoje preso, teria levado entre U$ 20 milhões a U$ 30 milhões para se associar a todos que, por motivos que merecem ser investigados tanto quanto a roubalheira que já está sendo apurada pela Operação Lava Jato, aprovaram a transação com a refinaria nos Estados Unidos. Afinal, se os votos em favor do negócio de Pasadena tiveram que ser comprados e por valores tão altos é claro que a operação era passível de questionamento.

E, se não havia convencimento quanto às vantagens da compra, ela não deveria ter sido feita. A menos que por trás da operação vicejassem interesses menores que não pudessem se tornar públicos, como aqueles que a corrupção preside, notadamente o das negociatas cujo objetivo é desviar dinheiro da população para partidos e políticos que, a cada dia que passa, constróem verdadeiras fortunas e turbinam seus patrimônios por meio da influência e do poder. É por isso que a Lava Jato deve ampliar o foco de suas investigações para o péssimo negócio de Pasadena. Bom, péssimo para o povo brasileiro, porque para alguns, pelo menos até agora…

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
Comentários