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Governador eleito, Rui Costa (PT) 18 de dezembro de 2014 | 07:38

Que Rui ainda possa surpreender!, por Raul Monteiro

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As únicas novidades verdadeiras, das que inspiram expectativa reformadora, na parcela do secretariado anunciada na última terça-feira pelo governador eleito Rui Costa (PT) foram o jornalista Andre Curvello, para a Comunicação, o cardiologista Fábio Villas-Boas, que assumirá a cobiçada pasta da Saúde, e o deputado federal Josias Gomes, que comandará a secretaria de Relações Institucionais. Não fosse por eles, a solenidade em que Rui apresentou a primeira leva, formada por 14 nomes, da equipe de cerca de 24 quadros com que pretende governar o Estado, seria marcada pela mais absoluta mesmice.

O sentimento de deja vú foi ampliado pelo fato de pelo menos oito dos nomes apresentados em coletiva serem herança direta ou indireta da administração atual, que está longe de ser considerada inspiradora, apesar de o próprio Rui ter pontuado nela. Uma análise aligeirada sobre a composição parcial do futuro secretariado estadual leva à conclusão de que o político, pelo menos num primeiro momento, venceu o técnico no cronograma de metas que o governador eleito se autoimpôs para azeitar a máquina com que pretende governar a partir de janeiro de 2015.

A maior sensação de que ainda não se pode falar em avanços foi dada pela escolha do deputado federal e vice-governador eleito João Leão, político do PP, para a Secretaria de Planejamento. Definitivamente, uma pasta com a missão de pensar o futuro de um Estado cuja economia só faz ampliar sua dependência de recursos estatais, empobrecendo a olhos vistos, deveria passar ao largo de um quadro cuja maior formulação intelectual de que se tem notícia foi o “buraco zero”, programa lançado por ocasião de sua passagem pela Secretaria de Infraestrutura do qual não vale a pena nem se lembrar.

A forte reação aos anúncios de terça mostra que Rui é refém de uma grande expectativa não apenas porque a alimentou desde a vitória eleitoral até o momento de fazê-los, mas principalmente por emergir como uma nova liderança política no Estado num momento histórico nacional e local delicado, com características que apontam, inclusive, para a necessidade de rupturas. Num contexto assim, acreditar que sua eleição representou uma aposta pura e simples na continuidade e a sociedade vai se satisfazer com mais do mesmo pode se constituir em mais do que um simples equívoco político.

Na recente história da Bahia, há exemplos de como se impulsionam instituições quando o cenário é absolutamente desfavorável. O reitor Edgard Santos soube transformar a Universidade Federal da Bahia numa usina verdadeiramente construtiva porque não lhe faltou ousadia para convocar o que havia de melhor no Brasil e no mundo para ajudá-lo a tocar a instituição. O investimento em cérebros lançou as bases para a criação de um caldo cultural que desembocou em movimentos que destacariam nacionalmente o Estado, a exemplo da Tropicália e do Cinema Novo, influenciando positivamente também as ciências humanas e a política.

A eleição de Jaques Wagner há oito anos, é fato, marcou uma mudança de paradigma no campo político. Por meio dele, a Bahia deu um basta num projeto de modernização conservadora que se esgotou numa autocracia. Talvez por isso o crédito ao petista, que ele soube transformar no assim chamado legado “imaterial” de sua gestão, durou a ponto de lhe permitir fazer o sucessor. Por várias razões, nada indica que a mesma carência venha a ser transferida a Rui. Para a sua própria sorte, o governador eleito ainda reúne tempo e condições de surpreender nos anúncios que aguardam.

*Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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