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Rui Costa terá que ter muita habilidade para lidar com base na Assembleia 12 de dezembro de 2014 | 10:18

Os primeiros ressentimentos, por Raul Monteiro

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Como não existe vácuo em política, não pode ser atribuída ao acaso a manobra com que a oposição, numericamente muito inferior à bancada governista, conseguiu derrubar na última terça-feira a votação do projeto de reforma administrativa proposto pelo governador eleito Rui Costa (PT). Ficou claro que os deputados, principalmente aqueles que integram a base, na qual se inclui o próprio PT, planejavam mandar um recado a Rui. E conseguiram, apesar da idéia que se disseminou de que a oposição foi a maior articuladora da derrota do governo. Não foi.

O recado pode ser sintetizado como uma reação às mudanças sugeridas pelo novo governo. E também como uma resposta ao estilo que o governador eleito já começou por impor na sua relação com os políticos neste curto espaço de tempo em que venceu a eleição e se prepara para assumir o poder, pela primeira vez, como chefe do governo baiano. Entre as principais mudanças formuladas no projeto de reforma administrativa, estão a extinção e fusão de secretarias e órgãos públicos e, claro, a demissão de servidores, que também já começam a se articular contra a medida.

Rui não partiu do nada para propor as mudanças. Como chefe da Casa Civil do governo Jaques Wagner, pode conhecer a máquina estadual por dentro, identificando ele próprio, como gestor, os gargalos que, em sua avaliação, emperram a eficiência do governo. Quando montou a equipe de transição que ajudou a formatar o projeto de lei com as alterações propostas, sabia o que queria. Ainda assim, deixou a equipe trabalhar com liberdade e maturar todas as sugestões antes de transformá-la num projeto e enviá-lo, por meio do governador Jaques Wagner (PT), para votação na Assembleia.

O problema é que entre o que se considera melhor para um governo que quer servir à sociedade e a política, necessária a que se criem as condições para que os desejos se realizem, vai uma longa distância. Como indicam agora os deputados, especialmente os governistas. Eles não escondem que estão ressentidos com o fato de, apesar de ter armado uma reunião para dar conhecimento sobre o texto da reforma, Rui não os tenha chamado em particular para discutir seus aspectos principais ou mais delicados, como aqueles relativos à extinção de espaços políticos e de poder onde normalmente colocam seus apadrinhados.

Tampouco se mostram contentes com o fato de o novo governador estar inovando na montagem do secretariado, pedindo aos partidos que indiquem suas listas para que ele próprio, com base no perfil do que lhe apresentam, possa decidir para que lugar devem ir. É muito para a cabeça dos nobres parlamentares, principalmente depois de quase oito anos em que o critério para a relação com o governo foi muito diferente, para não dizer o contrário do que Rui agora está exigindo. Ambos os lados têm muito a aprender no novo relacionamento, naturalmente. E muito a se ajustar mutuamente, se quiserem estabelecer um bom nível de convivência. A sociedade é que não pode pagar o preço de acertos aos quais não se possa dar transparência.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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