Foto: Dilvugação
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras 04 de dezembro de 2014 | 08:15

Garganta profunda nacional, por Raul Monteiro

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A cena da semana ficou com o emblemático ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, símbolo e exemplo de como os partidos brasileiros aparelham criminosamente o Estado com objetivos eleitorais e patrimonialistas. Convocado ao Congresso para uma acareação com outro elemento deste aterrorizador capítulo da história republicana brasileira, Nestor Cerveró, Costa roubou a cena pela coragem de revelar publicamente o que todo mundo já sabia: o esquema corrupto implantado na maior empresa brasileira, por acaso uma estatal, acontece em todos os outros setores em que o Estado atua, a exemplo de estradas, portos, ferrovias, hidrelétricas e por aí vai.

Seguro, tranquilo e até bem- humorado, como se estivesse realmente entre os seus, Costa deixou o Congresso silente com suas declarações. Novo silêncio se fez no momento em que, provocado por um deputado, fez outra revelação a respeito da qual há semanas já se comenta à boca pequena: estão, em suas palavras, na casa das dezenas os parlamentares que recebiam propina do esquema que tem como fonte de desvio de dinheiro público a Petrobras. Curioso que não tenha havido um entre os presentes que se levantasse e exigisse respeito do ex-diretor, cobrando dele que informasse o nome dos corruptos sob pena de estar enlameando a todos.

Costa deixou o Congresso como uma estrela genuína, dessas que o brilho não se apaga jamais pela verdade que trazem consigo, como estrelada deve ter sido a delação premiada que prestou à Polícia Federal e ao juiz federal Sérgio Moro, que conduzem as investigações sobre, segundo a imprensa internacional, a mais grandiosa rede de corrupção já descoberta em um país democrático.

O ex-diretor da Petrobras poderia continuar brilhando a semana toda sozinho não fosse a atitude do ministro Teori Zavascki, último dos indicados petistas ao Supremo Tribunal Federal (STF), que achou por bem liberar da prisão outro ex-diretor da Petrobras, Renato Duque. Ora, ora! Duque, todo mundo comenta, a partir das investigações da própria Polícia e da Justiça, é, mesmo sem querer, o verdadeiro “garganta profunda” – personagem mítico que ajudou, com informações privilegiadas, uma dupla de repórteres do The Washington Post a derrubar um presidente norte-americano -, da história de roubos e assaltos ao contribuinte brasileiro por meio da Petrobras.

Quem bancou sua indicação para a diretoria de Engenharia da Petrobras foi o onipotente e onisciente “ser” petista José Dirceu, condenado como um dos cérebros do mensalão. E teria, segundo o juiz Moro, uma volumosa fortuna guardada em paraísos fiscais.
Atuava sob as barbas de Duque um ex-gerente da estatal indicado por ele, Pedro Barusco, que se comprometeu, por meio da delação premiada, a devolver nada menos que R$ 252 milhões ao Estado.

Uma pontinha do iceberg. Prendendo Duque, e obtendo dele a delação, como a obtiveram do próprio Barusco, a Polícia e a Justiça supunham ter condições de chegar à cabeça do voluptuso esquema de roubalheira nunca antes visto na história. Cioso de seu “valor”, Duque manteve-se calado nos 20 dias em que ficou preso, negando qualquer participação no esquema. Permanecendo trancafiado, não se sabe até quando resistiria a não delatar. O ministro indicado pelo PT o liberou antes que abrisse a boca.

*Artigo publicado originalmente no Tribuna da Bahia

Raul Monteiro
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