Foto: Montagem Política Livre
29 de dezembro de 2014 | 07:26

A Câmara e a escolha do vice em 2016, por Raul Monteiro

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À sucessão à presidência da Câmara Municipal de Salvador está impondo um dilema ao prefeito ACM Neto (DEM). Uma eleição que parecia estar resolvida, lastreada na existência de uma candidatura única até o dia da escolha, em 2 de janeiro, repentinamente embolou em uma disputa com duas candidaturas da base da Prefeitura no Legislativo que só faz se acirrar a cada dia. Tudo corria bem para o atual presidente, o vereador tucano Paulo Câmara, até a entrada em cena do PTN, aliado de primeira hora de Neto que resolveu cobrar o cumprimento de um acordo pelo qual o PSDB se comprometera a apoiar seu candidato na sucessão de agora.

Para evitar que a base se esfacelasse, Neto chegou a sugerir ao PTN uma secretaria, mas o partido decidiu bater pé firme e lançar candidatura própria à presidência da Câmara. A mesma oferta fora feita várias vezes pelo prefeito a Paulo, que também a rejeitou, argumentando que não poderia recuar num estágio tão avançado da corrida e dos acordos que fizera, sob o risco de se desmoralizar. Para tornar o jogo ainda mais dramático no campo aliado, o PTN, numa grande jogada política, decidiu substituir aquele que poderia ser seu candidato natural, o vereador Carlos Muniz, pelo colega Tiago Correia.

Além de jovem e leve, Tiago, não bastassem a inteligência e o estilo ultradiscreto, muito valorizado no Legislativo municipal, é concunhado de Neto. Como diz um vereador da base aliada, com a escolha de Tiago, o PTN botou a sucessão literalmente no colo do prefeito. Para ilustrar o afeto que os Magalhães devotam a Tiago, corre a história de que no dia da eleição municipal em que Neto se elegeu prefeito, no momento em que os cálculos eleitorais tornaram a vitória do vereador irreversível, a família explodiu numa festa tão animada quanto aquela que fez na hora em que o prefeito foi declarado eleito.

O desafio colocado a Neto, portanto, não é pequeno. Ainda que tenha tido em Paulo um aliado fiel, que o ajudou a enfrentar as demandas do executivo na Câmara sem criar-lhe qualquer obstáculo, não pode desconsiderar as relações diretas com Tiago, que lhe devotará também a mesma fidelidade no Legislativo. No caso de ser forçado a envolver-se diretamente na disputa, como forma de evitar riscos à governabilidade futura em decorrência de uma divisão na base, o prefeito sabe que não poderá ver o candidato escolhido perder, sob pena de ser retaliado pelo vencedor, especialmente se ele for Paulo.

Mas a pressão só aumenta na medida em que vai ficando cada vez mais claro que a concorrência pela presidência na Câmara não se esgota no dia 2 de janeiro. Na prática, dado o poder que o comando do Legislativo tem na condução conjunta com a Prefeitura dos destinos de Salvador, o que está em jogo é a influência que o partido vencedor terá na definição do candidato a vice de Neto no ano de sua reeleição, em 2016. Com Paulo reeleito, é inevitável que o PSDB ganhe influência destacada nas articulações com vistas à escolha do companheiro de chapa do prefeito. O mesmo naturalmente ocorrerá com o PTN, se Tiago for o escolhido.

*Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia

Raul Monteiro*
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