Foto: Dida Sampaio/Estadão
Presidente Dilma Rousseff (PT) 13 de novembro de 2014 | 09:24

Os perigosos sinais do PT para Dilma, por Raul Monteiro

exclusivas

O memorável trecho da carta de demissão da ex-ministra Marta Suplicy (Cultura) criticando a política econômica da presidente reeleita é apenas mais um exemplo do nível de isolamento em que a vitória deixou Dilma Rousseff. Tivesse vindo da oposição, o ataque teria naturalmente menos impacto, porque representa uma síntese do que se disse na campanha em relação às escolhas equivocadas que a presidente faz no campo econômico e as quais, lamentavelmente, parece estar determinada a ratificar, apesar do discurso de aura humilde, com acenos ao diálogo, que fez no dia da vitória.

É claro que Marta representa Lula, que a colocou no cargo e vem se batendo, à essa altura quase publicamente, no sentido de que Dilma promova uma inflexão na política econômica. Basta lembrar que a ex-ministra, que retoma sua vaga no Senado, lutou para que o candidato a presidente fosse Lula no lugar de Dilma e, desde antes do esforço pelo companheirão, já não cruzava lá muito bem com a presidente. Curioso é que, no espaço de uma semana, foi o segundo ataque ao comportamento da presidente oriundo de um alto membro da cúpula petista e, mais do que isso, integrante de sua equipe.

Antes de Marta, o ministro-chefe da Casa Civil, Gilberto Carvalho, criticou a falta de diálogo de Dilma com o Congresso e ainda arrematou suas declarações à BBC com reparos à política social do governo, apontada como principal responsável pela vitória da presidente. Carvalho é outro integrante da chamada “cozinha” de Lula, cujo descontentamento com as opções de Dilma na área econômica viraram motivo de comentário no mundo político. Lula vem tentando a todo custo emplacar seu ex-chefe do Banco Central, Henrique Meirelles, no ministério da Fazenda. Acha que é o mínimo que a presidente pode fazer para acalmar o mercado e mudar o rumo de seu governo.

Mas, pelo visto, apesar da experiência e da ‘sabedoria’, o ex-presidente não tem tido sucesso. Para completar, a presidente disse, também esta semana, que não representa o PT, no que foi visto por alguns analistas como uma tentativa de se desvincular tardiamente do partido, ainda não se sabe exatamente por que motivo, mas pode ser interpretado também como um grito de independência dela em relação à agremiação que lhe proporcinou a eleição e a reeleição sob o respaldo total de seu mentor, ou criador, Lula.

São evidentes os sinais que o PT tem emitido para Dilma no sentido de que facilite sua vida aceitando os conselhos que lhe dá o ex-presidente. Dada a posição dos que a criticaram agora no partido, pode-se até mensurar que os ataques estão ainda no nível do alerta. Mas é claro que eles não ficarão no mesmo patamar, caso sua cabeça se revele mais dura do que foi até agora, e podem mesmo recrudescer para um grau de enfrentamento. Vai depender dela e da sensibilidade de Lula com relação ao risco que seu projeto de voltar à Presidência em 2018 corre, mantendo-se aliado a alguém que, passada a eleição, até seu partido, oportunisticamente, começa a concordar que está no caminho errado.

Artigo publicado originalmente no Tribuna da Bahia*

Raul Monteiro
Comentários