Foto: Montagem Política Livre
Prefeito ACM Neto (DEM) e o novo governador da Bahia, Rui Costa (PT) 16 de outubro de 2014 | 11:02

Rui, Neto e a competição nascente, por Raul Monteiro

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Com o comando do Estado sob seu controle a partir de janeiro de 2015, o governador eleito Rui Costa (PT) inicia o ambicioso plano de passar à história não apenas como um grande gestor, buscando reparar conhecidas lacunas deixadas na administração do Estado pela primeira experiência de governo de seu partido na Bahia. Rui quer afirmar-se também como um novo líder político estadual de esquerda e já escolheu como contraponto para a performance uma figura que vinha dando até agora sozinha as cartas nesta seara, no âmbito da centro-direita, o prefeito de Salvador, ACM Neto, do DEM.

A escolha do petista não é aleatória. Ela antecipa, em quatro anos, um encontro marcado que ele e o prefeito vão protagonizar na hipótese de ACM Neto, reelegendo-se na sucessão municipal de 2016, como é esperado, renunciar ao segundo mandato para concorrer ao governo do Estado em 2018, efetivando um plano que o acampanha praticamente desde que assumiu a Prefeitura de Salvador em 2012, uma conquista em si memorável com a qual derrotou a um só tempo a poderosa máquina petista estadual e federal e lhe assegurou o posto inconteste de líder máximo das oposições na Bahia.

Parece consenso entre os assim chamados liderados de Rui, entre os quais se inscrevem aqueles que, se duvidaram em algum momento de sua eleição, não o abandonaram até a virada nas urnas, tanto quanto os outros cujo número cresce impulsionado pelas perspectivas concretas do poder, que o governador Jaques Wagner, aquele que apostou desde o primeiro momento todas as suas fichas em seu nome, apesar das reconhecidas habilidades políticas e do respeitado senso estratégico e de oportunidade, nunca dedicou-se propriamente à política que o novo governador está disposto a fazer.

Wagner, por exemplo, nunca colocou na mesma sala para um bate-papo ou mesmo a definição de metas e estratégias os vereadores que integram a bancada de seu partido na Câmara Municipal, como Rui fez questão de fazer esta semana, quando coordenou pessoalmente, evidenciando o nível em que pretende exercer sua liderança política, um encontro de mobilização pela reeleição da presidente Dilma Rousseff. Neste particular, igualou-se, em iniciativa, ao prefeito, que comandara evento semelhante, na semana anterior, em defesa da eleição do presidenciável Aécio Neves (PSDB).

“O governo Rui vai ser bom de obra e de gestão, mas vai fazer muita política. (ACM) Neto não vai ficar como liderança nova exclusiva no espectro político da Bahia”, dizia, um dia depois da eleição de Rui, num encontro reservado a caciques petistas, um importante quadro do partido a ele ligado, cujas críticas ao comportamento politicamente “desprendido” de Wagner nunca se tornaram públicas. O estilo que o novo governador vai se autoimpor dá uma mostra, no entanto, de como será ainda mais competitivo o cenário político baiano a partir de 2015.

* Artigo publicado originalmente no Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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