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Wagner e ACM Neto: estica-me-larga pelo menos até as eleições 21 de julho de 2014 | 10:16

Um roteiro de intrigas até as eleições, por Raul Monteiro

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Não há hipótese de a animosidade política entre o prefeito ACM Neto (DEM) e o governador Jaques Wagner (PT) se dissipar antes de acabarem as eleições estaduais. E nada impede que a intriga esteja sendo alimentada, de fato, mais no plano federal do que propriamente no Estado, onde o candidato de Wagner, o deputado federal Rui Costa (PT), tenta alcançar o democrata Paulo Souto, líder nas pesquisas de intenção de voto à sucessão estadual, cujo nome foi abraçado abertamente, desde o princípio, pelo prefeito de Salvador.

Na verdade, é à presidente Dilma Rousseff que ACM Neto, uma liderança em ascensão na Bahia, opõe o desafio maior quando se envolve de corpo e alma na campanha de Souto e, como consequência, articula uma estrutura, no Estado, capaz de turbinar a candidatura do tucano Aécio Neves à Presidência da República. Como mostrou a última pesquisa DataFolha, a presidente registrou uma significativa redução de apoio de 55% para 49% no nordeste, que lhe deu a vitória no segundo turno das eleições contra José Serra em 2010, com quase cerca de 12 milhões de votos de frente.

Os tempos eram bem diferentes dos atuais. Agora, as oposições se armaram com palanques fortes em praticamente todos os importantes estados nordestinos, o que inclui de Pernambuco, base eleitoral do também presidenciável socialista Eduardo Campos, onde dificilmente Dilma terá a performance que registrou na eleição passada, quando contou com a ajuda dele, ao Maranhão, onde o clã dos Sarney vive uma crise, corroborada pela possibilidade de a governadora Roseana apoiar Aécio. Da região, não ficou de fora, naturalmente, a Bahia, onde o fator ACM Neto entrou em jogo para complicar ainda mais o cenário para o governo.

Afinal, com o palanque que o prefeito construiu no Estado, dificilmente Dilma conseguirá repetir aqui a vitória de 2,7 milhões de votos que obteve em 2010, quando,
inclusive, contava com o apoio do PMDB local, o mesmo que agora abriu uma dissidência nacional e pulou com os dois pés tanto no barco de Souto quanto no de Aécio com a candidatura ao Senado do ex-ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional). É por isso que, no cenário atual, não há porque Dilma facilitar a vida do prefeito de Salvador, tarefa na qual tem recebido a colaboração prestimosa do governo estadual.

De questionamentos sobre medidas que visam aumentar a arrecadação da Prefeitura, a exemplo da licitação para a renovação da concessão das linhas de ônibus da capital, à suspensão de linhas de financiamento para investimentos em obras de infraestrutura na cidade, como a recente resposta negativa da Desenbahia a um pedido de recursos para repavimentação asfáltica em Salvador, depois de meses de espera, tudo leva à conclusão de que vai demorar até que governo e Prefeitura voltem a se relacionar civilizadamente. Quem sabe, depois das eleições.

Arte

Quem disse que não há ilhas de excelência na burocrática máquina pública? O rumo adquirido pelo Palacete das Artes, do governo do Estado, depois do mal sucedido projeto para dotar Salvador de um museu dedicado ao escultor Rodin, é a maior prova de que, quando sensibilidade e capacidade de gestão se unem na condução de um espaço público destinado à arte e à cultura, só o usuário tem a ganhar. O nível dinâmico da programação e a organização demonstrada pelo Palacete das Artes conseguiram definitivamente colocá-lo no calendário artístico e cultural do Estado.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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