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Dilma Rousseff: avaliação de administração embutida em indicador eleitoral 28 de julho de 2014 | 08:40

Por que o Dilmômetro é diferente do Lulômetro

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Acusado de ser uma peça eleitoral, o Lulômetro era um cálculo econômico baseado na combinação de um conjunto de indicadores que previa a disparada do dólar caso Luis Inácio Lula da Silva fosse eleito. Quem o inventou foi o analista do banco Goldman Sachs Daniel Tenengauzer. O ano era 2002, o mesmo em que o candidato do PT se elegeria presidente da República. Não depois de dirigir uma “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual, buscando suavizar sua própria história, reconciliava-se com o capital financeiro e os mercados, desfazendo a idéia de que, uma vez eleito, faria uma revolução para socializar os meios de produção no país.

Não deixa de ser curioso que 12 anos depois, em pleno domínio político do petismo e do lulismo, o mercado esteja reinstituindo um novo cálculo econômico para avaliar exclusivamente os riscos da reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), que já está sendo chamado criticamente, em reação, pelo próprio Palácio do Planalto, de Dilmômetro. Ele começou a ser montado meio aleatoriamente na semana passada, com a divulgação de uma série de projeções de agências de risco, consultorias econômicas e bancos de investimentos questionando o favoritismo da candidata na corrida presidencial.

O lance mais forte, no entanto, viria de um comunicado dirigido pelo banco Santander aos seus clientes da faixa Select, com renda superior a R$ 10 mil, mais ricos, portanto, alertando para o fato de que, na hipótese de as chances eleitorais de Dilma aumentarem, o país registraria uma piora econômica, com juros e dólar disparando e a Bolsa, caindo. Foi o suficiente para o petismo se exasperar e o Palácio do Planalto dar uma dura no Santander, que decidiu colocar no olho da rua os responsáveis pelo texto e a iniciativa como forma de não dinamitar sua ponte com o governo.

Claro que o comunicado do banco, que agora responde também à acusação de fomentar a intriga por não fazer parte da panelinha que mais se beneficiou dos três governos petistas, foi encarado como material de campanha contra a presidente e não como um informe a seus clientes e investidores legítimo, técnico e independente, como devem ser os conselhos financeiros, mesmo tendo se dirigido claramente a uma elite, supostamente não eleitora do PT, que tem todo o direito de obter do administrador de suas finanças e investimentos uma projeção sobre o que as eleições lhe reservam.

O que mais chama a atenção no episódio, entrentanto, é que o Dilmômetro surge agora no cenário não como o Lulômetro, que fora baseado na emergência no ambiente eleitoral de 2002, com chances de vitória, de um ator político que se apresentava para comandar a Nação sem ter exercido ainda um único cargo de gestor público e cujas referências discursivas, todas, justificavam o temor de ruptura institucional que causava nos mercados. Tanto é que, na campanha à reeleição, totalmente reconciliado com o capital, o presidente não veria mais ressurgir o cálculo do Goldman Sachs.

Não se pode dizer o mesmo da atual presidente. O indicador que acaba de surgir para avaliar seu potencial eleitoral embute, na prática, uma análise sobre a sua administração, que ela pretende que continue, embora apresente como um dos seus legados a ameaça mais deslavada a uma das maiores conquistas da sociedade brasileira das últimas décadas, o controle da inflação, um monstro capaz de destruir a moeda, a estabilidade, os empregos e a perspectiva de justiça social num país verdadeiramente democrático.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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