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A presidente que disputa a reeleição e suas negociações perigosas 07 de julho de 2014 | 09:48

O fim da Copa e o início da campanha, por Raul Monteiro

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A Copa do Mundo é um bom negócio para os maus políticos porque, inclusive, faz a população esquecer temporariamente deles e de como são responsáveis pelos problemas do país. Desde o início do mundial, no qual o time brasileiro vai, aos poucos, se destacando e avançando na possibilidade de se tornar hexacampeão, o noticiário não registra nada de importante no Brasil que não esteja relacionado aos jogos. Iniciada formalmente ontem, com o término do prazo para o registro de candidaturas no último sábado, a campanha ainda não deslanchou.

Com a Copa, desapareceram dos telejornais, maior fonte de informação do grosso da população brasileira, notícias sobre o aumento do custo de vida, o endividamento profundo da classe média, o crescimento da violência e da falta de segurança e a continuidade dos problemas na saúde e na educação, apenas para citar alguns dos temas tão habituais, em dias normais, ao noticiário que deverão ser, naturalmente, debatidos na campanha. Mas os indicadores gerais de que o país está longe de ser um paraíso onde se possa viver nem por isso deixam de se atropelar com rapidez e frequência na realidade nacional.

A semana que passou foi marcada, por exemplo, por outro fluxo de liberalidade judicial envolvendo os mensaleiros, que ganharam agora o direito de deixar a Papuda para trabalhar e, assim, provavelmente ajudar na construção de um gigante chamado Brasil. Foi também a semana em que um dos responsáveis pelo maior esquema de corrupção já descoberto e, inicialmente, punido da história republicana nacional, de dentro de um presídio federal, impôs a troca de um ministro, por acaso baiano, e a ocupação de um ministério levando em conta os interesses eleitorais, entre outros, de seu partido.

Sem dúvida, não fossem a Copa e o noticiário massificado que a acompanha um grande lenitivo para as mentes e corações de um povo cansado de informações negativas e insistentes, o país assistiria mais estupefacto à negociação, diretamente da Papuda, entre um condenado e uma presidente da República desesperada para se reeleger a qualquer custo. Mas a Copa está acabando até o domingo que vem e, qualquer que seja o resultado do mundial, vença ou não o Brasil, a realidade não demorará a se instalar de novo nas salas brasileiras, inclusive, por meio dos televisores de LED e tela plana, muitos adquiridos em longínquas prestações para o seu desfrute.

Cenas emocionantes ou revoltantes, como a do criminoso golpe levado pelas costas pelo craque Neymar, finalmente cederão lugar à labuta cotidiana, temperada pelo início da propaganda eleitoral local e nacional em que, qualquer que seja o viés imposto pelos candidatos e pelo marketing que os tenta vender como produtos feitos sob medida para atender às demandas longamente reprimidas da sociedade brasileira, os problemas com que os brasileiros parecem ter se acostumado a viver têm tudo para reativar uma indignação que tomou conta da nação exatamente há um ano. Ou não.

Retaliação?

Vem de Veja a informação segundo a qual o prefeito ACM Neto (DEM) foi avisado pelo governo federal de que não há previsão para a liberação de cerca de R$ 150 mi para a contenção de encostas na capital. Seria uma retaliação ao fato de ter montado, na Bahia, o palanque do presidenciável tucano Aécio Neves com o apoio à candidatura de Paulo Souto ao governo e de Geddel Vieira Lima ao Senado. Podem alegar que Neto não estava inocente ao concorrer à Prefeitura contra os governos federal e estadual. Mas, em plena campanha eleitoral, o fato desmente amplamente o argumento de que a presidente Dilma Rousseff e o governador Jaques Wagner são políticos republicanos.

* Raul Monteiro é editor da coluna Raio Laser e do site Política Livre e escreve neste espaço às segundas e quintas-feiras.

Raul Monteiro*
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