26 de julho de 2014 | 08:21

Manifestações não devem influenciar resultado das eleições

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Apesar do grande envolvimento popular nas manifestações do ano passado, que levaram milhões de pessoas às ruas em todo o país, os protestos não devem influenciar no resultado das eleições deste ano, segundo especialistas. O assunto foi debatido nesta sexta-feira (25) no seminário Eleições 2014: Panoramas Político e Eleitoral, realizado no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). O professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj) Fabiano Santos vê com ceticismo a influência das manifestações no processo eleitoral e político. Na avaliação dele, faltou consistência nas questões levadas às ruas e havia muitas opiniões contraditórias no mesmo protesto. “A minha impressão é que, daquela circunstância e daquela conjuntura de decisão política e expressão de preferências, não se teria nada mais de consistente com sinalização para decisões da elite política e do governo”, avaliou. Outro aspecto apontado por Santos é o caráter antidemocrático e violento que algumas manifestações tomaram. “O que acabou permanecendo como legado da mobilização social foi o aspecto da violência. Definitivamente, as pessoas mobilizadas e interessadas em manter a pressão aderiram a um estilo de manifestação de intervenção política antidemocrático e isso acabou alienando boa parte das pessoas que estreavam na política ou retomavam o seu ânimo para a participação”. Também sem apontar influência nas urnas, o professor do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da FGV Márcio Grijó Vilarouca apresentou uma pesquisa feita com participantes da manifestação de 20 de junho de 2013 na Avenida Presidente Vargas, a maior ocorrida no Rio, com 300 mil pessoas. De acordo com ele, o público era muito heterogêneo quanto às preferências políticas e classes sociais e tinha, em média, entre 18 e 29 anos. Metade dos entrevistados não tinha nenhuma participação política anterior e todos tinham percepção de melhora quanto às condições gerais do país. “Eles relatam como experiência negativa vivenciada temas como mobilidade urbana, direitos LGBT [Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transsexuais e Transgêneros], meio ambiente, acesso a serviços públicos e corrupção dos costumes, que seria uma desonestidade generalizada da sociedade como um todo. Em geral, as pessoas faziam uma avaliação positiva da situação econômica e social do país e em seguida faziam algum adendo racional de um processo inconcluso, como ‘o país cresce, mas não se desenvolve’”, relatou. Quanto aos motivos para participar da manifestação, as respostas apontavam os convites pelas redes sociais e de amigos, além da curiosidade, para só depois colocarem questões concretas. Vilarouca afirma também que a constatação geral dos entrevistados é que não existe investimento em educação política no país. Por outro lado, o professor Jairo Nicolau, do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) destacou que as pesquisas eleitorais têm apontado um número muito maior de votos brancos e nulos. “Nas eleições passadas, brancos e nulos estavam em 6% quando começou o horário eleitoral. A última pesquisa Ibope mostra que 18% dos eleitores têm intenção de votar branco ou nulo. Há, de fato, aí uma novidade. Talvez isso reflita um ambiente mais geral de descrença na política e claro que foi agravado com os eventos e os desdobramentos de junho do ano passado”, ponderou. No entanto, Nicolau ressalta que o fato pode ser explicado também pelo alto nível de desconhecimento, por parte do eleitorado, dos candidatos apresentados.

Agência Brasil
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