Foto: Política Livre
Rui Costa é candidato do PT ao governo da Bahia 02 de junho de 2014 | 08:20

Porque Rui Costa mira também em ACM Neto

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Assessores do prefeito ACM Neto (DEM) se surpreenderam no último sábado, ao tomarem conhecimento de que o pré-candidato do PT a governador, Rui Costa, havia virado suas baterias contra ele. Afinal, o candidato do DEM ao governo é Paulo Souto, que por acaso lidera as pesquisas de intenção de voto à sucessão estadual com mais de 30
pontos percentuais à frente do petista. Trata-se da típica situação em que, quem está abaixo, exatamente na posição em que se encontra Rui, deve mirar em quem está acima, a fim de tentar uma polarização que resulte em algum ganho eleitoral.

E Neto é apenas, neste momento, o prefeito de Salvador. Permanece, portanto, distante da disputa eleitoral direta pelo Palácio de Ondina, afora pelo fato de que não apenas apóia como faz campanha por Souto em toda a Bahia, viajando para o interior todo fim de semana ao lado do candidato a governador do DEM. Com a popularidade mais em alta do que a do próprio candidato de seu partido pela Bahia afora, o prefeito virou alvo de Rui porque não pára quieto, reforçando aonde pode a campanha do democrata à sucessão estadual, e atacá-lo é uma boa forma de se tornar mais conhecido.

Para atingir o prefeito, Rui mirou na licitação em curso pela Prefeitura para renovar a concessão da operação das linhas de ônibus na capital. Disse que o modelo escolhido por ACM Neto, de “licitação onerosa”, em que as empresas de ônibus vão pagar pelo direito de explorar, pode ferir o interesse público. O argumento do candidato petista é que transporte de massa é um negócio subsidiado e não faz o menor sentido o prefeito querer botar o empresário para pagar, podendo a medida, em sua avaliação, repercutir negativamente tanto na tarifa quanto no serviço.

Neto preferiu não polemizar com o candidato, escalando o ex-secretário municipal de Transportes, José Carlos Aleluia, para respondê-lo em grande e agressivo estilo. Em outras palavras, o prefeito dispensou a isca de Rui, que foi ignorado também – obviamente – por seu verdadeiro oponente, Souto. A estratégia dos democratas parte do pressuposto de que só Rui tem a ganhar na hipótese de engatar uma polêmica com um ou com outro, porque é exatamente o candidato do PT que, segundo as pesquisas, aparece em situação desvantajosa do ponto de vista do conhecimento do eleitorado comparativamente a ambos.

Enquanto Rui toma conta de Neto, o governador Jaques Wagner, seu padrinho político, se ocupa de Souto. Já chamou o ex-governador, a quem sucedeu, de “homem maduro”, numa tentativa meio sem jeito de apresentar seu candidato como uma novidade e, em entrevista neste fim de semana, mostrou que está bastante incomodado com as críticas que Souto dirigiu à política de segurança pública na Bahia, um tema que com certeza será explorado pelos adversários do governo na campanha, principalmente, no horário político. É claro que Wagner não ouvirá uma resposta do candidato do Democrata.

Se não considera apropriado para a sua posição na campanha debater, neste momento, com Rui, Souto acha muito mais inadequado ainda discutir qualquer assunto com Wagner. Guiado pelo marketing político, o ex-governador prefere dirigir as críticas ao governo do sucessor sem confrontá-lo diretamente, porque é melhor que se coloque para a frente, na direção do futuro, evitando trilhar o caminho do passado, como Wagner e Rui estão doidos que faça. Neste momento, escolher o que fazer na campanha, enquanto liderá-la e não for ameaçado, é também uma das vantagens competitivas de Souto.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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