Foto: Agência Brasil
A pobre Dilma, segundo o ex-presidente Lula 16 de junho de 2014 | 10:05

Pobre Dilma e o torcedor desalmado, por Raul Monteiro

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A presidente Dilma Rousseff não foi só ofendida no Itaquerão no jogo inaugural da Copa como abertamente desrespeitada. O palavrão repetido em coro pelos torcedores, que o PT, seu partido, e seu mentor político e espiritural, Lula, trataram de atribuir à burguesia branca que, na visão dele, não toleram gente pobre como a presidente e seu antecessor, coitadinhos, tem tudo, no entanto e lamentavelmente, para se transformar no maior legado da Copa para a política brasileira.

Afinal, alguém aí se lembra de um presidente brasileiro, desde a primeira República, já ter sido mandado tomar naquele lugar de forma tão contundente e sonora num estádio onde estava sendo disputada uma Copa do Mundo, como aconteceu com, segundo Lula, a pobre presidente? O ineditismo da ocorrência com Dilma só amplia o potencial ofensivo do coro grosseiro que fizeram contra ela em pleno Itaquerão, onde o mundo todo pôde ver, em tempo real, o tratamento que estão dispensando à presidente.

Deus e o mundo já sabiam que o clima não era bom para Dilma no estádio, uma espécie de microcosmo da sociedade. Tanto que ela teve o cuidado de pedir que não a mostrassem nos telões. Chegou assim, encurralada, a um dos monumentos da Copa que, junto com outros 11 equipamentos de porte semelhante, consumiu bilhões do povo brasileiro em detrimento de investimentos em mobilidade, infraestrutura, saúde e educação, provavelmente um dos motivos porque a elite branca, como assinalou Lula, o pai dos pobres, incluindo de Dilma, anda tão irada com a presidente e os políticos.

O problema é que resolveram mostrar Dilma vibrando e pulando – sim, a pobre Dilma pula – no momento da comemoração pelo primeiro gol do Brasil. O que poderia se transformar numa demonstração de que, além de pobre, Dilma é uma mulher normal, com emoções e identidade com o esporte preferido do povo que governa, saiu pela culatra, desencadeando o embaraçante protesto que todo o mundo pode ouvir pela TV. Claro que algo saiu muito errado para Dilma, Lula e o PT no jogo inaugural da Copa no Brasil.

Mas, talvez por estarem no meio do turbilhão, a presidente e o ex parecem muito distantes de conseguir interpretar o que ocorreu. Revelando toda a sua chateação com os fatos, a presidente disse que perdoaria os insultos, mas não esqueceria. Como assim, Dilma? A senhora pretende se vingar dos agressores, aproveitando os recursos que a tecnologia permite para que se identifiquem um a um os torcedores que a mandaram tomar naquele lugar? Já Lula, além de reprovar mais uma vez a atitude de uma elite de que passou a fazer parte economicamente, optou por dizer algo muito novo. Culpando quem? Ora, a imprensa.

A mesma imprensa que desaprovou em coro os ataques à presidente. A mesma imprensa que, por acreditar no que diziam seus dirigentes com relação à importância de mudar o modus faciendi da política brasileira, ajudou sobremaneira o PT a chegar ao poder, inclusive à custa da demolição implacável de alguns de seus principais adversários. Será que Dilma e Lula ainda não perceberam que a melhor maneira de enfrentar o desrespeito é com a correção e a verdade?

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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