Foto: Política Livre
Candidato a governador do PT, Rui Costa 09 de junho de 2014 | 09:18

Pequenas diferenças entre Rui e Wagner

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Conscientes do enorme esforço que o candidato do PT a governador, Rui Costa, terá que fazer para se livrar do chamado “cansaço” petista, decorrente, entre outros motivos, dos quase oito anos da administração do partido no plano estadual e dos cerca de 16 que fará no comando do país, alguns membros da agremiação, sem nunca desmerecer o governador Jaques Wagner ou a presidente Dilma Rousseff, se acostumaram a professar a tese de que o ex-chefe da Casa Civil do governo baiano é figura com maior pendor para a gestão que seu padrinho político.

Sempre enfatizando positivamente o legado, em especial de Wagner, os defensores da idéia de que, se eventualmente conquistar o governo, Rui poderá fazer um governo melhor do que o do antecessor, não cansam de exaltar suas qualidades de político dedicado e estudioso, que não para de buscar se aprofundar nos assuntos de que trata ou dos problemas mais complexos que lhe caem no colo, exibindo como qualidade o que muitos acostumaram-se a apontar como uma falha indelével do postulante petista ao Palácio de Ondina: o perfil mais técnico que político.

Para os defensores da tese do Rui-técnico, seria exatamente sua característica menos política, neste caso, o diferencial do petista no processo eleitoral a que se submeterá, algo de que a população poderá tomar conhecimento à medida que a campanha avance, o horário eleitoral comece e os debates entre os candidatos ganhem corpo,
momento único de embate entre as candidaturas que lhes permite, livres da embalagem de produto que lhes impõem os marqueteiros, que cada uma delas se desnude um pouco frente ao eleitorado que pretende conquistar.

As afirmações sobre o referido diferencial de Rui são normalmente acompanhadas de uma análise, também do núcleo petista, segundo a qual a conjuntura que emerge neste momento na política baiana é muito diferente daquela em que o PT conquistou o poder, há cerca de oito anos atrás, quando a autocracia exercida pelo carlismo entrara em rota de declínio, permitindo a ascensão ao comando do Estado de uma nova elite política cujo maior papel, no primeiro momento, seria fazer a transição para um patamar de democracia plena na Bahia.

Por mais controversa que seja a avaliação, e que já identifiquem nela furos consideráveis seus adversários, alguns movimentos de Rui nesta pré-campanha sugerem algumas mudanças de concepção evidentes entre ele e Wagner que poderão ter impacto tanto na disputa como num eventual governo seu. Primeiro, o candidato acercou-se de um grupo de gente nova no PT, que tem funcionado como núcleo duro de tomada de decisões e análises sobre a campanha, alijando do seu círculo direto alguns figurões conhecidos do partido.

A iniciativa, por si só, demonstraria, além de um desejo de renovação, uma indicação de autonomia frente ao padrinho político e a estrutura de poder que o acompanha e da qual o próprio Rui faz parte. Segundo, depois de ter se dedicado a um trabalho extenso de prospecção na área, o candidato finalmente contratou para assessorá-lo na
comunicação uma empresa sem qualquer vínculo com o petismo, rompendo uma tradição consolidada no partido. Se é insuficiente para livrar Rui da síndrome de aparelhamento que acompanha o petismo, as decisões não deixam de confirmar que criador e criatura têm conceitos diferentes de como agir e, talvez, governar.

* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.

Raul Monteiro*
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