29 de fevereiro de 2012 | 10:07

Ética na administração (artigo)

bahia

É um “absurdo”, disse o governador em relação ao edital de concurso da Secult dando vantagens a militantes políticos. Quem já teve algum contato com o complexo da Secult sabe que não se trata de algo novo. A demissão de colaboradores competentes para dar lugar a PTs de carteirinha tem sido mais comum do que se pensa. Não é este o primeiro caso explícito do autoritarismo petista.

É provável que o demitido superintendente, ao agir dando vantagens a militantes políticos, tenha suposto agradar ao chefe. Além do mais, o bom senso indica que àquele responsável por uma instituição não é dado o direito de assinar qualquer documento sem dele haver tido conhecimento prévio, ainda que escrito pelo mais fiel dos seus servidores.

Como admitir que um secretário de Estado candidamente declare: “Ele (o superintendente) pediu urgência e eu não imaginei que tivesse essa cláusula”. Ética e moralmente falando, o administrador superior é responsável por qualquer
falta ou erro cometido, na vigência do seu reinado, ainda que, de modo incoerente, possa recorrer ao complexo modelo de “repartição de responsabilidade”, criado na ditadura militar (1967).

Não seria mais ético se declarasse haver induzido o seu superintendente a pedir demissão? Lamento, mas foi constrangedor o fato de o senhor secretário haver “tirado o corpo fora”, trazendo para o século XXI, de modo
esdrúxulo, um laissez passer do século XVIII.

Se não fosse a louvável denúncia do advogado Waldir Santos, esse caso iria juntar-se a tantos outros, tão absurdos que é melhor não cita-los. Aproveitando o ensejo, e por que muitos me têm indagado a razão de ainda não haver chegado a público o 2o. volume das Cartas de Octávio Mangabeira no 1o. Exílio (1933-34), programadas para dezembro de 2011, peço permissão ao senhor secretário, por encontrar-se a resposta no âmbito da Secretaria de Cultura, para transferir-lhe a responsabilidade de atender à tão insistente pergunta.

Em tempo: nunca estive, nem estarei, vinculada a qualquer partido político. Sou uma simples cidadã livre.

*Consuelo Novais Sampaio é doutora em História pela The John Hopkins University.

Consuelo Novais Sampaio, A Tarde
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