19 de novembro de 2008 | 10:02

O Jornal Nacional e a crise! Melhor seria dizer as coisas como são!

Por César Maia*

1. O JN tem feito força para ajudar a criar um quadro de relativo otimismo sobre a conjuntura. Certamente seu objetivo é o melhor: evitar que um clima de pessimismo agrave a crise. Ontem, num bloco-série semanal, dava continuidade a informar sobre empreendedorismo e de que forma as pessoas podem tomar iniciativas. Em outro, em cima de uma pesquisa defasada do IBGE de setembro sobre vendas a varejo, reforçava com entrevistas decisões de compra a crédito de bens duráveis.

2. E finalmente o presidente Lula, suando na testa, pedia que quem tiver algum dinheiro não o coloque debaixo do colchão, mas que gaste porque se não o fizer a conseqüência será o desemprego. Pela primeira vez Lula usa a expressão desemprego e o fez com ansiedade.

3. O problema é que as pessoas estão correndo risco com seus empregos e estimular o consumo, inocuamente, elimina o colchão de segurança que podem ter para o caso de perderem suas ocupações. Na Alemanha a decisão das pessoas é poupar neste momento. O governo não desestimula, pois mais vale perder “zero vírgula” alguma coisa de PIB que ter que deixar as pessoas ao sabor da crise sem seus elementos pessoais de autodefesa, como a poupança.

4. Desta forma, entrar por um sendeiro de criação virtual de expectativas, provavelmente terá como conseqüência e desdobramento, um impacto ainda maior da crise sobre as pessoas e suas famílias. O fundamental deve ser dizer como as coisas são de fato, de forma a que as pessoas tomem as suas decisões de autodefesa econômica.

5. Várias empresas suspenderam as festas de Natal, dando um sinal claro de austeridade a seus funcionários. O UBS informou publicamente que havia suspendido os bônus de seus dirigentes. Obama suspendeu seu suave sorriso e trocou pela seriedade que a conjuntura exige. Enquanto isso, Lula festejava na semana passada com jogadores de futebol, junto a Berlusconi e ontem recebia a camisa do Chelsea das mãos do próprio Felipão. Uma alegria danada. Não é o momento para isso. Aliás, o JN nos livrou desta imagem grotesca num quadro de crise.

* O título também é do autor.

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